A pergunta, na íntegra, do nosso leitor é a seguinte:

Gostaria de saber se a Bíblia do Pontifício Instituto Bíblico, uma edição brasileira das Sagradas Escrituras cristãs publicada pela Edições Paulinas em 1967, é uma boa tradução dos originais? Em relação à Bíblia de Jerusalém, sua tradução é melhor?

 

À medida em que vamos entrando no mundo da Bíblia descobrimos a importância das traduções. De fato, a Bíblia que lemos não é aquela que Jesus leu, escrita em hebraico ou aramaico, conforme as línguas do Antigo Testamento e, depois, em grego, a língua do Novo Testamento. Normalmente lemos em português e ficamos a mercê das traduções, nas mãos de quem a traduziu. É claro que supomos sempre a seriedade dos tradutores e o esforço que fazem em nos passar um texto mais próximo possível do original, com todos os limites impostos pela tradução. Hoje em dia foram feitos enormes progressos e todos os projetos de tradução são louváveis e merecem o nosso apreço. Quando, ao invés, estamos diante de um texto mais antigo, com mais de um século de vida, não temos tanta certeza do valor da tradução. Não pela falta de seriedade do tradutor de então, mas por causa da falta de acesso aos recursos existentes hoje.

 

A tradução do Pontificio Istituto Biblico

Esse Instituto, onde estudei por 6 anos, foi fundado em 1909 por iniciativa do Vaticano e confiado à gestão dos Jesuítas, que conduzem a faculdade bíblica até hoje. Logo depois da fundação, o professor Vaccari iniciou a tradução da Bíblia para o italiano, a partir dos textos originais. Até então, no mundo católico as traduções derivavam da Vulgata, texto latim da Bíblia, traduzido por Jerônimo no século V. Ou seja, se alguém traduzia a Bíblia para o português, ao invés de consultar o hebraico, aramaico e grego, tomava o texto latino e fazia a tradução. No século passado isso mudou. E o Instituto Bíblico foi um dos pioneiros em âmbito católico.

A dita tradução foi iniciada em 1925, com a publicação dos 5 primeiros livros da Bíblia. A obra ficou completa somente em 1958. Foi publicada pela editora Salani e teve como título “La Sacra Bibbia tradotta dai testi originali con note a cura del Pontificio Istituto Biblico di Roma”.

Você se refere, na sua pergunta a uma edição no Brasil dessa tradução, feita pelas Paulinas em 1968. Foram alunos do próprio PIB que, regressando ao Brasil, fizeram a tradução para o português dessa obra italiana. Portanto, em português é uma tradução da tradução, seguindo o mesmo princípio das traduções da vulgata. Esse fato já faz com que a versão brasileira perca muita autoridade.

 

Relação com a Bíblia de Jerusalém

A Bíblia de Jerusalém é uma tradução dos originais, como aquela do PIB, feita pelos dominicanos franceses do École Biblique de Jerusalém. Essa tradução veio depois daquela do PIB e por isso seus protagonistas tinham em mãos muitos outros recursos que não estavam disponíveis no tempo da tradução do Bíblico.

Há um artigo na WikiPedia que é muito parcial e julga a versão do Bíblico como ortodoxa e condena aquela do École Biblique como sendo anti-católica. É um artigo errado, pois estamos diante de duas versões católicas, cada uma com suas virtude e limites. Aquela do Bíblico não foi atualizada e nasceu logo após a abertura aos estudos bíblicos científicos dentro do catolicismo. A dos dominicanos veio depois do Vaticano II e passou por processos de revisão, que acolheram de maneira científica e séria as descobertas das ciências bíblicas e arqueológicas.

A Bíblia de Jerusalém foi publicada no Brasil pela Paulus. A última edição em francês é de 1998 e a versão Brasileira não é uma tradução do francês, mas sim uma tradução dos originais, que porém traz as ricas notas e introduções típicas da versão do École Biblique. A Paulus publicou a última versão brasileira em 2002.

Se tenho que dar um conselho, use a Bíblia de Jerusalém, pois feita de maneira séria, dentro da ortodoxia, e respeitosa dos resultados da pesquisa científica.