Partimos de Roma na terça pela manhã, com um vôo El Al. Quase 3 horas e meia e chegamos em Israel, num aeroporto novo, muito bonito. A segurança é sempre muito atenta, pois existe sempre, como infelizmente se confirmou no dia 17, o perigo de atentados, mas não incomoda.
Ficamos hospedados na casa de um amigo, Elio, no Ratisbonne, dos Padres de Sião. Havíamos estudados juntos, na época da teologia e além do mais Ombretta, na época em que fazia o seu doutorado, ficou hospedada na mesma casa.
Na terça-feira chegamos em Jerusalém já perto da noite e demos uma primeira volta pela cidade nova e em volta dos muros da cidade velha.
Quarta-feira

Deixamos Qumrãn e, costeando as margens do Mar Morto, chegamos em Ein Ghedi. Hoje é um balneário, freqüentado por quem deseja tomar banho no mar. Experiência única, pois graças à densidade da água, muito salgada, não deixa o corpo afundar e todos, também quem não sabe nadar, bóia. Mas aquele região é também cenário bíblico; por exemplo foi ali que Davi e Saul se perseguiram, na complicada história contada por 1Samuel nos capítulos 23 e 24 e também nos Cânticos dos Cânticos (1,14), que fala das vinhas ali presente (ver também Ez 47,10). Aproveitamos para almoçar num self service. Em Israel há muita salada e parece ser o prato principal. �?s vezes até no café da manhã a gente encontra verdura. Um alimento típico é o falafel, um sandwich cheio de diversas saladas e um bolinho frito.
Há uns 15 quilômetros mais ao sul, sempre às margens do Mar Morto, se encontra Massada. �? o símbolo da resistência hebraica, pois ali, em 72 d.C., quase 1000 hebreus resistiram aos romanos, que tentavam ocupar toda a região, por dois anos. Quando viram que os romanos estavam vencendo e conquistando a fortaleza, preferiram se suicidar para não se entregarem ao invasor. Hoje a fortaleza é um ponto turístico muito visitado. A subida é feita com um teleférico e em cima da montanha a visão do Mar Morto, de um lado, e do deserto, do outro, é belíssima.
Deixamos as margens do Mar e entramos no deserto, na direção de Beer Sheva. A estrada passa bem no meio do deserto, que é árido, composto por pedras. Não é o típico deserto que temos em mente, cheio de dunas de areia. �? simplesmente montanhas de pedra. No nosso caminho passamos por Arad, uma cidade mencionada também na Bíblia (Jz 1,16). �? impressionante como conseguem transformar um lugar tanto árido em uma cidade tão bonita, cheia de flores.
Em seguida nos dirigimos para Beer Sheva, o extremo sul da terra de Israel, segundo a expressão bíblica celebre, �??de Dã a Beer Sheva�?�. �? também cenário da vida dos patriarcas (Gn 21, 26, 46).
A partir de Beer Sheva a paisagem começa a mudar: muita plantação, desde flor até banana. Os campos, por causa das recentes inesperadas chuvas, estavam verdes.
Depois da visita da cidade, que atualmente é a quarta maior de Israel, tomamos a direção de Jerusalém. Antigamente, quando estudava lá, a estrada normal era aquela através de Hebrão, mas os problemas políticos atuais proíbe o uso de tal passagem. Então passamos por Bet Shemesh.
Quinta-feira
Quinta-feira santa havíamos reservado para a nossa visita a Galiléia. Saímos de Jerusalém cedo e tomamos a estrada número 1, que vai de Tel Aviv até o Mar Morto. Descendo para Jericó passamos num local que recorda a parábola do Bom Samaritano, com algumas ruínas do tempo das cruzadas. Uns quilômetros mais e paramos numa espetacular vista do Deserto da Judéia, sobre o Wadi de Kelt. Experimentar o silêncio e aridez do deserto é coisa única e, creio, fundamental para entender melhor os textos sagrados.
Depois nos dirigimos para o Norte. Também nesse caso a questão Palestina mudou as coisas. Antigamente, para ir de Jerusalém para a Galiléia, se atravessava Jericó. Hoje foi criada uma nova estrada, que evita a cidade governada pelos palestinos. A estrada escorre ao lado do Rio Jordão, que a divisa entre Israel e Jordânia.
Depois de passar por Bet Shean, onde recordamos a história da morte de Saul, chegamos ao sul do Lago de Tiberíades ou Mar da Galiléia. Havíamos programado muitas visitas, mas como o tempo era pouco e o caminho longo, decidimos visitar apenas Cafarnaum, Tabga e o Monte das Bem-Aventuranças.

Era hora do almoço e decidimos ir até um Kibutz próximo. O Kibutz é uma realidade típica de Israel. Trata-se de uma espécie de cooperativa, formada por várias famílias, que, geralmente, trabalham na agricultura e dividem os lucros entre si. Parece que muitos jovens não aceitam mais esse estilo de vida, pois tudo é possuído em comum, mas de qualquer forma há sempre muitos no país.
Depois do almoço visitamos o local da multiplicação dos pães e peixes. O santuário, com alguns elementos bizantinos, é cuidado pelos beneditinos alemães. Ali próximo, numa monte às margens do lago, está o local onde Jesus disse as bem-aventuranças. Embora nos últimos anos tenham feitos trabalhos tipicamente turísticos, como bazares e estacionamento a pagamento, o lugar é particularmente fascinante.
Outros lugares, que infelizmente não visitamos, nas vizinhanças são: Corazim, a igreja do primado de Pedro, Magdala e a cidade de Tiberíades. Também não pudemos visitar Caná e Nazaré, que não estão longe do Lago.
Deixando para trás o lago, nos dirigimos ao Mediterrâneo e fomos a Acco, que antigamente era chamada São João de Acco. Foi o último lugar em que os cruzados conseguiram manter, defendendo-se dos árabes, que reconquistaram aquilo que os cruzados, no século XII, haviam tomado. Hoje é uma cidade árabe e também habitada pelos hebreus. �? particularmente sugestiva a zona à beira mar, onde uma vez havia o porto.
De Acco, que está quase na fronteira com o Líbano, nos dirigimos para o sul, na direção de Tel Aviv, costeando o Mediterrâneo. Passamos junto ao Monte Carmelo, em Haifa, onde se recorda as atividades proféticas de Elias. A nossa meta era Cesaréia Marítima, que Ombretta não conhecia.
Cesaréia Marítima era, por assim dizer, a capital na época de Jesus, pois aqui residia, por exemplo, Pilatos, que na época das festas ía a Jerusalém. Mas a importância da cidade supera isso. Foi, de fato, dali que Paulo partiu para suas viagens e também, na época dos padres da Igreja, nasceu uma grande reflexão teológica. Poder-se-ia dizer que foi dali que o cristianismo ganhou o mundo.
Hoje a cidadezinha é fonte de muito material arqueológico, que vai desde o teatro romano até as mais recentes descobertas, como o hipódromo. Há também os restos do aqueduto que trazia água para a cidade, que está em meio de uma praia bastante freqüentada.
Deixamos Cesaréia quando já ficava escuro. Até Jerusalém são mais de 100 quilômetros, que fizemos pela nova estrada, a número 6, muito moderna, que passa próxima à Samaria e muitas vezes se vê o muro que Israel está construindo para defender-se do ataque dos palestinos.
Sexta-feira

No fim da tarde fomos ao Muro das Lamentações, a única parede que existe do antigo templo de Jerusalém, ver o início do Shabat, que começa com o pôr-do-sol, anunciado pelo som de uma sirene. Durante aqueles dias também estava acontecendo a festa de Pesah, a Páscoa dos hebreus. A festa dura uma semana, mas os dias mais importantes são o primeiro, quando se celebra a ceia pascoal, o Seder, e o último dia. Durante esse tempo em Israel é difícil comer pão, exceto uma espécie de bolacha feita com trigo e água, chamada massot, pois não podem usar e comer todo tipo de alimentos com fermento.
Sábado
No sábado reencontramos nosso amigo Cipriano. Ele mora num apartamento, na cidade nova, na direção da estrada que vai a Belém, próximo às clarissas. Os carmelitas, que cuidavam do Notre Dame e foram substituídos pelos Legionários de Cristo, alugaram esse apartamento num edifício novo. �? muito interessante como funcionam. Era sábado e no sábado, por exemplo, o interfone não funciona e até mesmo em alguns lugares o elevador pára em todos os andares, sem que seja pedido, pois retém que nesse dia não se pode fazer nada, nem mesmo apertar botões.
Fomos, então, visitar Ein Karen. Lá encontramos duas recordações importantes: o nascimento de João Batista e o encontro entre as primas Isabel e Maria. Há duas igrejas, cada uma recordando um desses acontecimentos. Na igreja de São João, onde os franciscanos atualmente têm também o noviciado, existem placas numa parede com o Benedictus em várias línguas e na montanha, no santuário da visitação, o mesmo acontece com o Magnificat.
Tentamos também visitas as irmãs de Sião, com quem a Ombretta trabalha em Roma. Elas têm um convento naquela cidadezinha, mas infelizmente não foi possível falar com ninguém, pois o convento estava fechado.
Depois de Ain Karen tomamos a estrada de Tel Aviv, passando em meio às florestas criadas pelo reflorestamento, nas montanhas ali próximas. Ein Karen está próxima a Jerusalém e até Tel Aviv são mais ou menos 70 Km.
Tel Aviv é uma cidade moderna, com prédios altos e uma vida muito leiga, ajudada pela praia, pois está às margens do Mediterrâneo. Primeiro de tudo visitamos a antiga cidadezinha, Jafa, onde o Novo Testamento lembra o episódio de Pedro com Cornélio. Além do mais era o porto que na época do Antigo Testamento recebia, por exemplo, os cedros para a construção do templo e de onde, também, partiu Jonas para Nínive. Atualmente os franciscanos cuidam de uma igreja, freqüentada sobretudo por latino-americanos e outros que falam inglês. Após o almoço fomos passear à beira mar. �? um ambiente muito gostoso e lembra muito as praias brasileiras. Além do mais não é difícil escutar as músicas brasileiras e até vimos um grupo que praticava capoeira.
Domingo
Era o nosso último dia na terra santa e era também a Páscoa de Jesus. Infelizmente tivemos que devolver o carro às 8 da manhã e também a missa no Santo Sepulcro era às 8. Havia muita gente no Rent a Car, por causa da festa de Páscoa dos hebreus, e não conseguimos chegar em tempo para a missa da ressurreição. Decidimos ir a missa à tarde e acompanhar a procissão que se faz todos os dias pelos frades franciscanos dentro da basílica.
Como a Ombretta não havia ainda visitado Yad Washem, o museu do holocausto, fomos até lá, depois de ter devolvido o carro. Pegamos o ônibus 17, que vai também a Ein Karen, e chegamos no museu, com uma inesperada chuva. O museu foi refeito e ficou muito interessante. Há muito material que conta, de forma realística, a história da perseguição dos nazistas aos hebreus durante a segunda guerra do mundo.
Como era domingo, decidimos nos oferecer um almoço à brasileira, na verdade à Argentina, num restaurante argentino, �??gaúcho�?�.
A tarde fomos fazer nossa visita ao Santo Sepulcro. Havia muita gente. O único refúgio dentro da Basílica, que é dividida entre várias confissões (ortodoxos, armênio, coptas e católicos), onde se pode rezar, é a capela do Santíssimo, onde há também uma coluna que a tradição diz que nela foi amarrado Jesus para ser açoitado. Ali terminou a procissão dos frades, com a bênção do Santíssimo. Após a bênção começou a missa de um grupo de espanhóis, da qual participamos.
Terminada a missa voltamos para casa e começamos a arrumar as malas, pois viajaríamos na segunda às 6 da manhã, tendo que sair de casa às 2 da madrugada, pois pedem que se esteja 3 horas antes no aeroporto.
Foi tudo bem como o vôo de retorno. Inclusive, chegando a Roma, fomos brindados com um vôo panorâmico sobre a cidade e lá de cima conseguimos até mesmo individuar a nossa em Castel Gandolfo.
Impressões
O mundo da parte do estado de Israel mudou muito. As infra-estruturas crescem de forma impressionante: novo aeroporto, novas estradas, ferrovias, túneis em Jerusalém...

Os lugares santos são bem cuidados pelos religiosos presentes. Em locais onde não existe autonomia católica, como o Santo Sepulcro, existe um grande caos e isso provoca escândalo ao pelegrino, se não é bem preparado. �? difícil rezar no Santo Sepulcro! O mesmo acontece, em parte, em Belém.
Em referência às questões acadêmicas, existe muitas escavações interessantes. Em Jerusalém estão sendo descobertas novas ruínas, na piscina probática e na assim chamada �??cidade de Davi�?�. Também em Cesaréia Marítima... Conversando com �?lio, acenou a uma frente de estudo pouco desenvolvida, que segundo ele, será interessante desenvolver: trata-se de estudar o contato existente entre os padres da Igreja e os rabinos do Talmud. Os estudiosos da Universidade Hebraica estudam essa questão já da algum tempo, mas os cristãos ainda não a descobriram. Cipriano, que estuda no �?cole Biblique, nos informou do projeto dos frades dominicanos, protagonistas da Bíblia de Jerusalém: estão começando um projeto de publicar uma Bíblia ao estilo do Talmud, ou seja, uma página que contém, ao centro, o texto bíblico e às margens os pareceres dos Padres da Igreja inerentes àquele texto.
Concluindo, a terra santa é, sem nenhuma dúvida, o quinto evangelho, pois visitar aqueles lugares oferece uma chave de leitura única da revelação de Deus. Oxalá todos os cristãos possam um dia visitá-la.