Um segundo casamento pode ser considerando em sintonia com a mensagem cristã somente em caso de viúvez. O divórcio não faz parte da lógica divina, que criou homem e mulher e os uniu para sempre, como podemos ler em Mateus 19,6. Se já na Bíblia existe uma discussão entorno do divórcio, é por causa da dureza do coração humano. O princípio da união até a separação natural provocada pela morte entre homem e mulher casados é constantemente afirmado pela bíblia e as leis que derivam dessa lógica têm o objetivo de garantir a subsistência desse princípio.

Obviamente, a lei não evita a transgressão, mas apenas a denuncia. Há muitas pessoas que infelizmente se encontram em situações complicadas, aonde o princípio de uma união perene não pode ser garantido. Essas pessoas não podem ser ignorados e não reprovadas. A falta deve ser condenada, mas não as pessoas.

Em síntese, não podemos dizer que com base na Bíblia podemos nos divorciar. A Bíblia pede que sejamos fiel no nosso casamento. Mas diz também que em primeiro lugar está a pessoa e a misericórdia divina está de braços abertos para acolher quem não conseguiu ser fiel à vontade divina. Quem está nessa condição precisa entender que é abraçado por Deus e não pode esquecer que há algo de errado, que existe uma situação não ideal.

Sob essa perspectiva, relembro uma decisão dos bispos católicos, no sínodo de 2016 sobre a família (leia aqui o documento completo):

Quanto às pessoas divorciadas que vivem numa nova união, é importante fazer-lhes sentir que fazem parte da Igreja, que «não estão excomungadas» nem são tratadas como tais, porque sempre integram a comunhão eclesial. Estas situações « exigem um atento discernimento e um acompanhamento com grande respeito, evitando qualquer linguagem e atitude que as faça sentir discriminadas e promovendo a sua participação na vida da comunidade. Cuidar delas não é, para a comunidade cristã, um enfraquecimento da sua fé e do seu testemunho sobre a indissolubilidade do matrimónio; antes, ela exprime precisamente neste cuidado a sua caridade ».