Para nós cristãos não existe nenhuma dúvida que Jesus é Deus, caso contrário seria vã a nossa fé. De fato tudo o que fazemos tem em vista a certeza de que Jesus é Deus e o seguimos como tal. Essa verdade é muito evidente na nossa vida de fé. A sua explicação teológica é mais complicada. É por isso que os teólogos passam muito tempo de suas atividades escrevendo e refletindo sobre o mistério de Deus encarnado, do Pai, do Filho e do Espírito Santo, matéria tradicionalmente definida como teologia trinitária.

Logicamente não tenho intenção de fazer aqui um tratado de teologia trinitária, mesmo porque não tenho competência para isso, mas pretendo apenas lhe ajudar a vislumbrar a questão e convidá-lo à reflexão, sublinhando que em momento algum deve duvidar da divindade de Jesus. O grande problema da reflexão teológica sobre um único Deus que abrange o Pai, o Filho e o Espírito Santo é o conceito de “pessoa”. A teologia fala de três pessoas, de uma só natureza. Para nós, cada pessoa é singular e não conseguimos entender como três pessoas podem ser a mesma pessoa. O conceito de pessoa, além do mais, não é algo que apareça no Novo Testamento, mas nasceu a partir da reflexão teológica da tradição cristã, desde os primeiros séculos, para expressar duas realidades fundamentais da nossa fé: o mistério dessas três manifestações divinas e a encarnação de Deus no meio de nós.

Acredito que o termo pessoa seja pouco adequado para falar desse mistério. Sendo um mistério, é utópico pensar em entende-lo perfeitamente, mas nem por isso podemos deixar de falar sobre o tema. De fato, a teologia é o resultado da fé que procura entender. Uma das categorias encontradas foi a de “pessoa”, com o objetivo de afirmar que o Pai não é o Filho, o Filho não é o Pai e o Espírito Santo, que também é Deus, não é nem o Pai e nem o Filho. Nesse sentido seriam três, pois de fato a escritura não usa o singular, quando fala dessas realidades divinas, mas o plural: “eu e o padre somos uma coisa só” (João 10,30). Não se diz “eu e o padre é uma coisa só”.

No fundo, o que quero que fique claro é que saibamos que se nos perguntamos o que são esses “três”, a nossa linguagem resulta insuficiente para explica-lo. Se respondemos “três pessoas” é porque não queremos ficar em silêncio, sem nada a dizer sobre essa realidade que para nós continuará sendo um mistério.