Esse livro teve vários autores. Estamos falando do maior livro da Bíblia, com seus 150 "capítulos". Cada Salmo tem uma história própria, um contexto e provavelmente também um autor.

Uma tradição muito antica atribui a Davi a autoria dos salmos. De fato, nos "títulos" de 73 salmos encontramos a atribuição a Davi (a versão da Septuaginta atribui 82 salmos a Davi). Mas há também salmos atribuídos a Asaf (12), aos filhos de Coré (11) e outros isolados atribuídos a Emã, Etã, Moisés e Salomão.

É provável que o título não queria atribuir originalmente a composição ao personagem mencionado, mas apenas estabelecer certa relação do salmo com a personagem mencionada, seja por causa da concordância do tema, seja porque este salmo pertencia a uma coleção atribuída a ele.

Apesar do fato que seja exagerado atribuir a composição dos salmos a Davi, é importante também não ignorar a menção aos personagens no início dos salmos. Por exemplo, a coleção dos salmos atribuídos a Davi certamente haviam alguma relação com o grande rei, mesmo porque os livros históricos confirmam seu talento musical e de poeta, bem como seu gosto pelo culto. Por isso, não seria absurdo pensar que alguns textos desse livro tenham nascido dali. Apesar disso, também não é correto dizer que todos os salmos atribuídos a ele, sejam obra sua. Mas à base disso existia, sem dúvida, um núcleo autêntico. Não é possível precisar mais do que isso.

Quando falamos de autores bíblicos, principalmente no que se refere ao Antigo Testamento, precisamos mudar nossa perspectiva. Normalmente à base existem tradições orais, que passam de geração em geração, e que mais tarde é colocada por escrito por um "redator". Não existe o "escritor" tal como temos hoje, que se senta numa escrivaninha e escreve a obra do começo até o fim e depois a entrega a uma editora.

 

Quando foram escritos

Atribuir todo o livro a um único autor seria algo completamente errado. Verificando singularmente os salmos, vemos que eles retratam um período muito amplo. Até algum tempo atrás, alguns diziam que tudo era coisa composta a partir do Exílio em Babilônia, isto é, cerca de 500 anos depois de Davi. Hoje os críticos são mais prudentes e aceitam que certos tempos vêm do período monárquico. Todavia, não é possível do mesmo modo dizer que tudo vem da época dos reis. De fato, vários Salmos falam do exílio, da ruína de Jerusalém e da deportação (veja o Salmo 137). No Salmo 126 é incluse contado o retorno do Exílio, coisa que, repetindo, aconteceu 500 anos depois de Davi.

Depois da volta da Babilônia, com o restabelecimento do culto em Jerusalém, é provável que tenha crescido muito as composições sálmicas.

O livro que temos hoje em mãos é obra de colecionadores, que fizeram edições e colocaram junto os salmos ou coleções menores que tinham vida própria. E não é fácil dizer quando terminou a obra desses colecionadores, pois sabemos bem que o versão grega conta com 151 Salmos e a Siríaca com 155. Incluse o último salmo da versão grega, que se acreditava existisse somente em grego, foi encontrado em hebraico em Qumran, entre os manuscritos do Mar Morto. Portanto, a forma canônica do saltério, tal como temos hoje nas nossas bíblias, não se impôs definitivamente senão bem tarde, permanecendo uma coleção aberta até o começo da nossa era, ao menos em alguns ambientes.

 

Coletânea lírica

Os Salmos, sublinhando, são uma coletânea de poesias líricas, de orações, de hinos. Na verdade esse tipo de literatura aparece também em outros livros da Bíblia, como o cântico de Moisés, em Êxodo 15. Ou também o Magnificat ou o Benedictus, no Novo Testamento. A excelência e o tesouro da lírica religiosa de Israel é, sem dúvida, o livro dos Salmos.

O nome "salmo" vem do instrumento de corda usado para acompanhar os cânticos (psalterion, em grego). Em hebraico, língua em que os salmos foram escritos, são chamados de  tehillim, que significa "hinos". Na verdade, nem todos os salmos são "hinos", se falamos de estilo literário. São ditos também "mizmor", termo que supõe um acompanhamento musical. Outros são chamados de cânticos. Existem também as súplicas, que podem ser individuais ou coletivas, as lamentações e existem também alguns que incluem oráculos.