A pergunta integral do nosso leitor segue aqui abaixo:

Como surgiu a Galileia? Ela não deveria fazer parte de Samaria? Na época de Jesus, por que os judeus (de Judá, antigo Reino do Sul) odiavam os samaritanos (do antigo Reino do Norte, ou Reino de Israel), mas não os judeus galileus? Pois o Reino do Norte foi levado cativo pela Assíria e nunca mais o povo regressou, e os moradores que ficaram na terra foram misturados a outros povos pagãos, mas a região da Galileia também pertencia originalmente ao Reino do Norte, de modo que também os nascidos lá deveriam ser tratados pelos judeus da mesma forma que os samaritanos.


A região da Galileia è muito importante para nós cristãos, pois é o local de onde vem Jesus e aonde passou a maior parte da sua vida, especialmente do seu ministério, com os apóstolos que também eram galileus. Lá ficam, além de Nazaré, Cafarnaum, Caná e Magdala, só para citar algumas cidades mencionadas nos Evangelhos. E obviamente, o Lago (ou Mar) da Galileia. Ao contrário do Novo Testamento, no Antigo ela quase não aparece ou tem pouca importância. Quando o povo entrou na terra prometida, aquela zona do país foi dada à tribo de Neftali. Em relação à origem etimológica do nome, provavelmente seu nome original (Galil, em hebraico) tenha a ver com a palavra “povos”, embora signifique literalmente “região” ou “território”. De fato, conforme se lê em Isaías 8,23, era considerado “território dos pagãos” (gelil há-goyim). Pagãos, como acontece na Bíblia, são entendidos como pessoas de países fora de Israel.

 

Reino do Norte (Samaria) e Reino do Sul (Judá)

No período em que o povo bíblico ficou dividido em 2 impérios, por cerca de 250 anos, Galileia, como você menciona, pertencia ao Reino do Norte, mas não pode ser identificada com a “Samaria”, que é uma região montanhosa que fica entre Jerusalém e as planícies da Galileia. Samaria, além de ser uma região, era o centro do Reino do Norte, como Jerusalém era do Reino do sul. Ambas as cidades tinham seu próprio templo. No final, foram os samaritanos que herdaram as tradições e também as consequências da divisão e sobre eles foram atribuídos os conflitos derivados da separação com Jerusalém.

O Reino do Norte terminou muito antes de Cristo, mais de 700 anos antes. Por isso, na época de Jesus existia apenas o conflito religioso e não mais aquele geográfico, pois todos estavam sob o poder do Império Romano.

Quando a Assíria conquistou o Reino do Norte, dando fim a esse reino, trouxe muita gente pagã para popular a zona conquistada. Foi nessa época que também a Galileia foi habitada por diferentes grupos étnicos, como testemunha 2Reis 17.

 

Galileia sob os Romanos

Sob o domínio romano, iniciado antes de Cristo (ano 63, com Pompeu), o país foi dividido em Judeia, Samaria e Galileia, que englobava toda a região norte do atual Israel. E os romanos, depois da morte de Herodes, o Grande, colocaram Herodes Antipas, filho do mencionado Herodes, aquele do massacre dos inocentes, como governador daquela área.

Depois essa região continuou a ser assim chamada, até hoje, no atual estado de Israel, região que atualmente tem Tiberíades como capital.

 

Galileus entre os judeus

Na época de Cristo, os galileus, como Jesus, eram praticantes da religião judaica e a referência religiosa era o templo de Jerusalém. Mesmo assim, existia no tempo de Cristo algum atrito, pois os judeus mais ortodoxos, aqueles de Jerusalém, aonde ficava o Templo, tinham dúvidas sobre a observância da Lei por parte dos judeus que viviam longe de Jerusalém, ou seja, não tinham certeza que os galileus eram escrupulosos na observância da Lei e que todos os preceitos eram seguidos à risca por seus habitantes. Era um preconceito, mais ou menos acentuado. Além disso, existia, sem dúvida um elemento objetivo intrínseco da população da Galileia que pode dar razão a esse preconceito. Além do fator histórico mencionado acima, Galileia era uma zona por onde passam vias de comércio e isso facilitava a presença de fatores externos ao povo judeu, que podiam afetar os costumes e até mesmo influenciar na origem etnográfica dos seus habitantes.

É provável, todavia, que se trate de um preconceito e que, na verdade, o povo galileu era muito praticante e quem sabe, inovador na prática religiosa judaica, como por exemplo o uso da sinagoga como lugar central da vida religiosa do judeu, mesmo em Israel.

 

Diferença, no tempo de Cristo, entre galileus e samaritanos

No tempo de Cristo, os samaritanos eram uma realidade a parte em relação à religião de Jerusalém. Os samaritanos tinham sua própria bíblia, unicamente o Pentateuco, seu próprio templo e suas próprias práticas religiosas. Isso derivou da separação que se concretizou no tempo de Esdras e Neemias, quando os judeus voltaram da Babilônia. Apesar da vontade dos samaritanos de retomar o contato com os judeus, os que regressaram do exílio não aceitaram e a separação se consolidou. Essa separação continua até hoje, pois ainda nos tempos atuais a comunidade dos samaritanos, que conta apenas com algumas centenas de membros, segue suas tradições, que não estão ligadas àquelas dos judeus.

Talvez deveríamos aprofundar a abrangência geográfica, no tempo de Cristo, dos “samaritanos” praticantes. Todavia, é certo, como já dito, que os galileus seguiam a religião proposta pelos tradicionais judeus, cujo centro era Jerusalém.