Não existe contraste entre Antigo e Novo Testamento, mas continuidade. De maneira errada, às vezes, consideramos dois livros, duas realidades independentes, mas, na verdade, estão intimamente ligados, sendo impossível compreender plenamente o segundo sem conhecer o conteúdo do primeiro. Deveríamos, de fato, chamar "primeiro" e "segundo" testamento, pois o termo "antigo" induz a um juízo negativo, leva-nos a considerá-lo como "velho", "superado", coisa absolutamente errada.

A razão é muito simples: o Novo Testamento é a realização daquilo que foi anunciado ou prefigurado no Antigo Testamento. Assim, a figura de Jesus e da Igreja não podem ser profundamente entendidos sem conhecer a Primeira Aliança que Deus fez com o povo de Israel.

Uma leitura superficial, e infelizmente muito difundida, faz pensar que o modo de agir de Jesus trace uma divisão com a Lei, com a Torá, mostrando um Deus que primeiro dá mandamentos e que depois lhes transgride. Mas, como é claro através de suas próprias palavras, Jesus não os transgride, mas os observando, realizando-os em plenitude: "não vim a abolir a Lei ou os Profetas, mas a realizá-los" (Mateus 7,17).

 

Diferença entre um e outro testamento

Por outro lado, com essa reflexão não estou dizendo que não existe diferença entre um e outro testamento. Ela existe, pois em um encontramos a promessa e no outro a sua realização. No primeiro testamento Deus se revela aos poucos, caminhando com paciência com o povo, respeitando o seu tempo histórico, fazendo passos pequenos, esperando a sua reação, o seu processo de aprendizagem. No Novo, temos a revelação plena, pois Deus se revela Ele mesmo, através do seu Filho; é o auge da revelação, que ilumina tanto o Antigo Testamento quanto as nossas vidas.

A diferença que existe entre um e outro Testamento é caracterizada pelo percurso histórico que a humanidade fez no processo de descobrimento e acolhimento de Deus na própria vida. Essa caminhada é a maneira escolhida por Deus para se revelar, chegando com Cristo ao culme, à revelação plena.

Se formos falar de diferença doutrinária, é claro que necessitamos sublinhar alguns aspectos, mas não se trata de uma cisão entre uma etapa e outra, mas da dinâmica própria de todo processo. Como já fiz em outras oportunidades, gosto de usar o exemplo da aprendizagem da matemática na escola. A criança começa aprendendo a contar e depois a somar 1 + 1 = 2. Se esse processo continua, saberá, na juventude, fazer cálculos aritméticos complicados. Embora se tornando um experto matemático, o "1+1" da infância nunca se tornará uma falsidade, mas terá o seu valor. Assim também acontece com as doutrinas na Bíblia: no início do percurso histórico de Israel podem parecer ingênuas, mas já contêm em si o germe da plenitude de sentido que será revelada em Cristo.