Celebrando o mistério da Morte e Ressurreição de Cristo, chama atenção o drama vivido por Cristo na Sexta-Feira Santa. Ele ficou sozinho! Foi condenado pela autoridade religiosa e política; a multidão, que no Domingo de Ramos gritava “Hosana ao Filho de Davi” agora grita “crucifica-o”; os apóstolos, que prometeram fidelidade, o abandonaram, todos fugindo e inclusive alguns renegando-o e até traindo.

A propósito dos apóstolos, quem mais chama a atenção é Judas. Quem era? Por que Jesus o chamou como um dos doze? Como Jesus o teria tratado? Por que se tornou o traidor?

Na Quinta-feira Santa, durante a última ceia, Jesus anuncia aos apóstolos: entre vocês está alguém que vai me trair. Judas, como os outros apóstolos, pergunta: “por acaso sou eu, Rabi?” (Mateus 26,20-25).

Judas não era um estranho para Jesus. Tinha caminhado com o mestre durante aqueles anos de missão, na Galileia e também na Judeia. Certamente a expectativa em Jesus era grande. Havia uma situação de opressão do povo, que era dominado por um governo estrangeiro, e havia a esperança em um messias que libertasse o povo de toda opressão. E Jesus dizia que era o Messias! Há quem acredite que Judas, indo entregar Jesus aos chefes tenha querido forçar Jesus a começar a “revolução” esperada. Havia inclusive, no grupo dos apóstolos, quem tinha consigo espadas na noite de quinta-feira, quando Jesus foi preso no Getsêmani...

Não sabemos o que se passava no coração de Judas, mas a verdade é que não podemos trata-lo como um corpo estranho no grupo de Cristo. Jesus deu para ele o pão, na última ceia. O pão se dá para quem é próximo, para quem se quer bem. Judas foi escolhido por Jesus como apóstolo e participava da intimidade de Cristo. O “traidor” é um dos seus e ao dar o pedaço de pão na Ceia, continua oferecendo a ele a sua amizade, renova o convite a participar na sua paixão.

Judas não entende o convite que o Senhor lhe faz. Não é capaz de renunciar às próprias convicções e abraçar um discurso novo, a mudar a perspectiva da própria vida. Quanto mais íntimo, mas exigente é o chamado!

O suicídio com o que Judas dá fim à própria vida e, com certeza, uma atitude extrema, mas tem incito um fio de esperança em um recomeço, em um perdão. É um fim trágico que demonstra fragilidade, mas também consciência da própria incapacidade de ter entendido a lógica da vida e a lógica do convite que Cristo lhe fez.

As “traições” pelas quais passa Jesus, durante a quinta-feira e sexta-feira santas, deveriam nos fazer pensar no nosso próprio compromisso como cristãos. Nos devemos nos ver na multidão, nos governantes, nos apóstolos... Cada um de nós foi chamado por Deus para ser seu discípulo. E a resposta que estamos dando está à altura do convite que nos foi feito?