Hoje, dia 24, estou em casa: folga do trabalho. As luzes da árvore de natal, aqui de casa,estão acesas e o presépio está iluminado, esperando o Menino, que será “revelado” amanhã, dia de natal. Hoje teremos a janta com os sogros e amanhã o almoço em família, depois da missa natalícia. Experimento uma certa ânsia, um certo medo de não viver bem esse evento fundamental para a nossa fé cristã. Aquilo que vivemos e experimentamos nesse dia é o modo correto de celebrar o Nascimento de Cristo? O que poderíamos fazer para que seja de verdade a festa do aniversário de Jesus e o Natal não termine marcado por um sentimento de insatisfação?

 

Navegando em um oceano de contrastes

No dia de hoje, o Papai Noel, esse personagem misterioso, vai distribuir, sem descanso, presentes para crianças, jovens e adultos. As crianças esperam com ânsia a chegada do homem de vermelho, com barba, com o seu saco cheio de coisas desejadas. E em muitas casas todos estão pensando qual será o cardápio da ceia ou do almoço. Tudo isso ignora a crise econômica em que se vive e muitas famílias, graças também às despesas do Natal, terão dificuldades pra chegar ao final do mês. Mesmo assim, escutamos todos dizer que o sacrifício “vale a pena”.

Contra a corrente, durante todo o mês de dezembro, muitos sacerdotes e pastores, dos púlpitos das igrejas, com razão pedem para que não percamos de vista o essencial, a celebração do nascimento de Jesus.

A pergunta que muitos fazemos nesses dias visa saber se é compatível o natal cristão com tudo o que se vive na sociedade de hoje.

Acredito que seja uma pergunta muito pertinente, mas no fundo não se trata de um questão de compatibilidade. Tratar esse tema desse ponto de vista seria cair na arapuca do maniqueísmo, sem nenhuma conclusão que possa enriquecer nossas vidas. A questão de fundo é, como uma pessoa que acredita em Deus pode dominar e controlar essa onda típica desse período, sem se deixar engolir por ela. Na prática, temos que conseguir navegar, de maneira inteligente, nesse clima típico desse tempo de festas de fim de ano.

O marketing característico desse período, a corrida aos presentes, a organização da ceia e do almoço do natal não podem ser combatidos por nós, cristãos adeptos, conscientes da razão da festa hodierna. Eles conviverão, mesmo contra a nossa vontade, com o presépio. Atacá-los de maneira desenfreada é viver fora da realidade, pois isso é o que existe, criado também por nós mesmos. Que lição positiva podemos tirar disso, navegando de forma inteligente nesse oceano?

 

A serenidade do cristão

Essa noite é um momento mágico em que Deus se faz um de nós. Assumamos com serenidade as coisas típicas dessa festa: vamos abrir um champagne ou um spumante, comer um peru, um pouco de presunto e frutas exóticas; vamos abrir os presentes, nos reunir em família. Tudo isso sob a premissa da sobriedade.

A chegada de Jesus dá sentido ao encontro familiar, vivido em profundidade com abertura à pluralidade. É a família que reúne os corações agradecidos e promove um sentido de vida sólido dentro de uma cotidianidade desenfreada e de uma sociedade líquida. Mesmo se a fé não é um elemento que une a todos, a família permanece um porto seguro, lugar onde se partilha os sentimentos e os desejos mais reservados.

É também um período que nos chama à solidariedade, que coloca o outro no centro, ação que nos identifica com Cristo. Nesse âmbito, as possibilidades são múltiplas: a cada um a tarefa de escolher aquilo que condiz com sua forma de viver a fé.

Essas atitudes podem nos ajudar a dar sentido às festas e a não nos levar a chegar ao final do ano simplesmente com ressaca – não só física, mas também psicológica e espiritual - mas enaltecidos por uma experiência vital.