Não é correto. Mas vamos entender bem a questão.

Há muita confusão com as "Marias" nos Evangelhos. Temos Maria, mãe de Jesus; Maria Madalena; Maria, mãe de Tiago e José (Mateus 27,55); e Maria de Betânia, a Irmã de Lázaro. A confusão aumenta quando se fala da unção, feita por uma mulher, de Jesus. Vamos ver em detalhe.

Segundo Lucas 7,36-50, uma "mulher pecadora" (não diz o nome e nem o lugar) ungiu os pés de Jesus e os enxugou com seus cabelos, quando jesus estava à mesa na casa de um fariseu. Mateus, Marcos e João falam de uma unção em Betânia. Para Mateus 26,6-13 e Marcos 14,3-9, essa unção se deu na casa de Simão, um leproso: uma mulher (sem nome) usou um perfume caro e ungiu a cabeça de Jesus. João 12,1-8 também fala de uma unção em Betânia: ofereceram-lhe um jantar e Lázaro estava à mesa com Jesus, enquanto Marta servia; então Maria pegou um perfume muito caro e ungiu os pés de Jesus e os enxugou com os cabelos. Nas três narrações da "unção de Betânia", os discípulos murmuram pelo desperdício do perfume, caro, usado para a unção, dizendo que poderia ser usado para "ajudar aos pobres".

Os exegetas afirmam que temos duas unções: a de Lucas, que teria acontecido na Galileia, e a dos outros três evangelistas, em Betânia. Embora a unção segundo João coincida com aquela de Mateus e Marcos (perfume caro, Betânia), ele tomou emprestado alguns detalhes de Lucas (unção dos pés e exugar com os cabelos) e acrescentou outros detalhes tipicamente seus, como é o contexto da família de Betânia, isto é: Lázaro, Marta e Maria, personagens não mencionados pelos outros evangelistas. É somente João que diz que a unção foi feita por Maria, supostamente a irmã de Lázaro.

Portanto, embora sejam episódios distintos, os leitores - e não somos os primeiros - se confundem, sobretudo graças ao uso de elementos lucanos tomados emprestados por João.

 

Maria de Betânia e a Madalena

A identificação dessas duas personagens como uma única pessoa é uma confusão sem fundamento histórico. Essa ideia começou a propagar-se graças às palavras do Papa Gregório Magno, que cerca de 600 anos depois de Cristo, afirmou: “A mulher que Lucas chama de ‘a pecadora’ e João de ‘Maria’, cremos que seja aquela de quem Marcos diz que Jesus expulsou 7 demônios, Maria Madalena” (Sermões sobre o Evangelho, 33). Conforme essa lógica, se quem unge Jesus em Lucas é a Madalena e em João encontramos uma "Maria" que unge a Cristo com a mesma maneira descrita em Lucas, se deduz que a Maria de Betânia é a Madalena. Mas, repetindo, é uma conclusão errada.

A primeira coisa que não faz sentido é ligar a "pecadora" de Lucas 7 com Maria Madalena. Logo em seguida, em Lucas 8,2, o Evangelista diz que "Maria, chamada Madalena, da qual haviam saído sete demônios" era uma das mulheres que "financiavam" o apostolado de Cristo, junto com Joana e Susana (e várias outras). Estamos a dois versículos da unção que Lucas conta no capítulo 7. Se fosse a mesma mulher, certamente Lucas teria dito. Além disso, aqui também precisaríamos dizer que o fato dela ter sido "curada" de 7 demônios não nos deve levar a deduzir que fosse prostituta; esse também é uma definição que provavelmente não é correta.

A identificação da pecadora de Lucas 6 com a Madalena levou a criar essa fama de Maria Madalena como prostituta. E as palavras do Papa Gregório Magno fizeram com que alguns pensassem que, sendo a mesma Maria, também a irmã de Lázaro fosse prostituta.

Em síntese: nem a "pecadora" de Lucas 6 é Maria Madalena e nem Maria de Betânia é a mesma pessoa que Maria Madalena. Portanto, Maria irmã de Lázaro não fora prostituta.