Daniel 7 é um capítulo muito importante da Bíblia. Infelizmente é uma página difícil de entender, pois usa uma linguagem estranha à nossa percepção, embora sua mensagem, com ajuda dos comentários, seja muito evidente e facilmente entendida.

Para entender o tipo de texto, bastaria coloca-lo ao lado daquilo que lemos no último livro bíblico, o Apocalipse ou Revelação. Trata-se, isto é, de uma linguagem típica da corrente apocalíptica: essa corrente literária usa imagens aparentemente estranhas para transmitir uma mensagem. O problema é que tais imagens provavelmente eram bem conhecidas aos destinatários desse tipo de obra, mas são desconhecidas por nós. Esses textos são impressionantes e muitas pessoas gostam de usá-los para muitos fins, inclusive intenções que não coincidem com aquela do autor. A mais comum é ler tais textos como manifestação do fim do mundo ou outros eventos espetaculares. Eles não têm a ver com essas coisas, mas são simplesmente a confirmação de que Deus é Senhor da História, que está sob seu controle. Isso é dito com imagens.

 

Daniel 7

As duas coisas que chamam a atenção desse capítulo é a visão das feras e a vinda do Filho do Homem, junto com a visão do Ancião.

As feras são 4:

  1. Como um leão (com asas de água, que fica em pé, como um homem, com um coração humano);
  2. Como um urso (com três costelas entre os dentes);
  3. Como um leopardo (com 4 asas e 4 cabeças)
  4. Terrível e forte, com dentes de ferro, com 10 chifres. Surge um 11º. chifre, arrogante...

O primeiro indício para entender esses 4 símbolos é dado no versículo 2: era agitado o “mar grande”. Trata-se do Mediterrâneo. Portanto, o contexto de atuação dessas 4 feras está bem definido: a região do mediterrâneo. Trata-se, na verdade, de 4 reinos, pois assim é interpretado pelo próprio Daniel, quando no versículo 23 diz: “a quarta fera será o quarto reino na terra”. Que reinos são?

Eles são os mesmos já apresentados em Daniel 2, que eram simbolizados pela grande estátua vista por Nabucodonosor. Trata-se, portanto de uma repetição. Na primeira vez que se fala desse reino, a revelação é feita a um rei estrangeiro, enquanto que agora quem vê é o profeta do Senhor. A primeira fera é como um leão. O leão é símbolo da Babilônia (veja Jeremias 4,7). As asas dessa fera simbolizam a potência e rapidez de conquista especialmente de Nabucodonosor. Esse império perde força.

Quem o sucede é indicado como a segunda fera. Trata-se da Pérsia. É dita “como” um urso, que demonstra a diferença com a elegância do leão: os persas foram mais bárbaros, com leis criminais e cruéis.

A terceira fera é igual ao “ventre” da estátua de Daniel 2. Trata-se da Grécia. É como um leopardo, indicando a sua velocidade nas conquistas, a partir de Alexandre Magno. Depois da sua morte, o reino foi dividido em 4 monarquias independentes, representando as “4 cabeças”. A quarta fera é o Império Romano. Tinha 10 chifres, como os dez dedos da estátua sonhada por Nabucodonosor. Os símbolos aqui presentes englobam toda a complexidade do império romano, que não menciona aqui.

 

O ancião e o Filho do Homem

A partir do versículo 9 termina o tempo das feras, pois chega o “império eterno”, ao qual “todos os impérios servirão e prestarão obediência” (v. 27).

O ancião é Deus (o branco das suas vestes e cabelos denuncia sua divindade). Se aproxima dele uma figura “como homem”, dito filho do homem, que é conduzido à presença divina. Esse homem ganha autoridade, um reino eterno. Ele ultrapassa a condição humana. Jesus tomará para si esse título. Embora seja muito discutida que sentido pudesse ter na mente do autor, o Filho do Homem provavelmente engloba seja o sentido individual, seja o sentido coletivo. Ou seja, o Filho do Homem é o chefe do povo, mas é ao mesmo tempo o seu representante, aquele que serve como modelo para o povo dos santos.

O que conta, para a mensagem desse capítulo, é que a realidade divina controla todo o poder terreno, que é submisso ao trono divino. Isso dá esperança para o povo, especialmente se é perseguido, como provavelmente era o contexto da época em que Daniel foi escrito.

O mesmo se pode dizer do Apocalipse, que toma muitos elementos dessa passagem de Daniel: também esse livro, o último da Bíblia, traz uma mensagem de esperança para os cristãos perseguidos, afirmando que no final, apesar da força do mal, dos inimigos do plano divino, vence sempre o Reino de Deus.