Por que a mulher deve usar o véu na Igreja?

O uso do véu pela mulher é uma tradição muito antiga, bastante valorizada na Igreja Ortodoxa. Teve sua influência da religião judaica, onde os judeus cobrem a cabeça ao entrar no espaço sagrado, conforme podemos observar quando o apóstolo Paulo compara a cultura judaica à cultura helenista na primeira Carta aos Coríntios. Nesta tradição, a mulher deve, assim que entrar na Igreja, colocar o véu sobre a sua cabeça, ou seja, cobrir a cabeça, os cabelos, conforme orientação de São Paulo aos coríntios 1 Cor 11, 2-16). Porque, no momento da ceia, isto é, da Celebração da Santa Missa, devemos expressar, com nossos sentimentos e gestos corporais, “amor cristão” (v. 16b), nossa reverência e adoração a Jesus que, novamente, morre por nós, na mesa do altar do sacrifício. Devemos, pois, fazer isso até a sua segunda vinda gloriosa: “Portanto, todas as vezes que comerdes deste pão e beberdes deste cálice proclamais a morte do Senhor, até que Ele venha” (1 Cor 11, 26).

De acordo com a exegese do texto da primeira carta aos Coríntios 11, 2-16), é fato reconhecer que o apóstolo Paulo — ao incentivar o uso do véu nestas comunidades miscigenadas por diferentes culturas (gregos, judeus e romanos), faz analogia da cultura helenística e a cultura judaica. Há uma corrente que interpreta o “raspar a cabeça” como possíveis mulheres convertidas, chamadas de “prostitutas rituais”, consagradas a deusa Afrodite, porque estas deveriam rapar a cabeça. Entretanto, não há nenhuma prova cabível no texto de Paulo que consolida essa assertiva, porque, dentro do costume israelita, as mulheres deveriam apresentar-se em locais públicos e no templo com a cabeça coberta em sinal de submissão ao marido.

Esta analogia corrobora o fato de que o mandamento paulino acerca do uso do véu estaria mais ligado ao valor espiritual (ritual), destinado a toda mulher cristã que, necessariamente, a um contexto regional. Ele destaca que, na cultura religiosa judaica, entrar no espaço sagrado sem, todavia, cobrir a cabeça, era algo profano. Ao se referir à tradição judaica, Paulo adverte que “se a mulher não cobre a cabeça, então deveria cortar também o cabelo. Se, no entanto, é vergonhoso para a mulher cortar o cabelo ou raspar a cabeça, então ela deve cobrir a cabeça” (v. 6), porque o cabelo comprido é uma glória para a mulher, “pois o cabelo comprido foi lhe dado (antes do) véu” (v.15b), conforme a interpretação da preposição (ἀντί: “antes de”, em contrapartida a “como”) mais adequada do texto grego: “ἀντί περιβόλαιον”, ou seja, antes do véu (manto).  

Desde a era apostólica e, consequentemente, baseado nos textos dos padres da Igreja (a exemplo de Tertuliano, Clemente de Alexandria, São Cirilo de Jerusalém, São João Crisóstomos, Santo Ambrósio e Santo Agostinho) ao se referir à primeira carta de Coríntios 11, 2-26), o uso do véu tornou-se uma tradição cristã, ligada, intimamente, a expressão ritualística do culto na Igreja. No conjunto das Igrejas Ortodoxas, utilizar o véu faz parte de uma herança da tradição judaica, ligada à questão religiosa da cultura hebraica, da qual o cristianismo fora bastante influenciado. Na Igreja Católica Romana, a partir do Código de Direito Canônico de 1983, o uso do véu perdeu seu caráter de obrigação canônica, sendo, portanto, facultativo o seu uso. Apesar disso, há, atualmente, um movimento feminino crescente na Igreja incentivando o retorno deste costume.   

O uso do véu não significa, todavia, que a mulher seja inferior ao homem ou uma pretensa forma de diminuí-la. Pelo contrário, usar o véu é uma forma de seu reconhecimento como a mais bela das criaturas criadas por Deus, a quem devemos honrar por conta da sua importância na história da nossa salvação. É o próprio São Paulo quem nos diz que é “Por essa razão e por causa dos anjos [que] a mulher deve ter sobre a cabeça um sinal de autoridade mas uma forma de dignificar seu valor”. E ainda: “No Senhor, todavia, nem a mulher é independente do homem nem o homem é independente da mulher.  Porque, assim como a mulher veio do homem, assim também o homem nasce da mulher, mas tudo provém de Deus!” (1Cor 11, 11-12).

Na carta aos efésios, São Paulo chama a atenção das mulheres, ao mesmo tempo que ordena aos homens seu amor às suas esposas: “Esposas, cada uma de vós respeitai ao vosso marido, porquanto sois submissas ao Senhor; [...] Maridos, cada um de vós amai a vossa esposa, assim como Cristo amou a sua Igreja e sacrificou-se por ela” (Ef 5, 22 e 25). A ordem de São Paulo é simples: amar a esposa, martirizando-se por ela, ou seja, entregando-se, sobretudo, à morte, quando a vida assim o exigir.

Diante de Deus, devemos, pois, amar e respeitar a essência feminina como a mais bela criatura. Nesse sentido, Maria, a Santíssima Mãe de Deus, a Theotokos, é o modelo perfeito e digno da mais alta honra à mulher. Utilizar o véu é, pois, um ato simbólico da presença real de Deus no altar do sacrifício. São meios pelos quais utilizamos para nos introduzirmos no espaço sagrado, onde, de fato, busca-se unir a Deus, expressando sua feminilidade, sua beleza, diante da beleza divina.

Nesse sentido, a missa torna-se um espaço da dignidade e, ao mesmo tempo, da gravidade, porque revivemos, diante da cruz do calvário, o sofrimento e a morte de Cristo, Nosso Senhor. O véu sinaliza, enquanto expressão simbólica — assim como, o firo, na cabeça do celebrante (padre) que adentra o Santo dos Santos — a presença do Senhor dos senhores. Ele ajuda a mulher a entrar a perceber em si os sentimentos de admiração e adoração a majestade divina, porque não a carne, o sangue e, até mesmo a palavra são insuficientes ao expressar a experiência que ocorre nas profundezas da alma.

A mulher deve usar o véu na Igreja porque o seu uso é uma tradição cristã antiga que não pode ficar esquecida pelas mulheres cristãs. Segundo porque ele dá testemunho aos infiéis de sua fé autêntica em Jesus Cristo. Na Igreja Ocidental, isto é, na Igreja Católica Romana, esta prática ficou esquecida, algo, extremamente, sem importância. Nestas comunidades, ainda vejo — apesar de ser raro — algumas senhoras, em comunidades mais tradicionais utilizando o véu. Mas, na maioria das comunidades ocidentais esta prática quase não existe mais, caiu em desuso. No Brasil, a única Igreja Evangélica que mantém o costume antigo de cobrir a cabeça com o véu no culto cristão é a Igreja Cristã do Brasil, uma igreja genuinamente brasileira. Ela baseia-se no fato de que a ordem de São Paulo é espiritual destinada a toda a Igreja e não voltada, unicamente, a Igreja de Corinto.

Ao dirigir-se aos efésios, assim se expressou São Paulo: “Eu vos elogio porquanto em tudo vos lembrais de mim, e vos tendes apegado fielmente às tradições que vos transmiti”. Não deixemos, pois, este costume antigo perder-se diante das inovações contemporâneas. Desse modo, o véu faz sentido, porque, a mulher, ao se sentir protegida por Deus, também manifesta a ele seu amor, respeito e submissão, reverenciando e adorando Jesus Cristo. O véu, portanto, realça a sua beleza, destaca o brilho feminino como a mais bela das criaturas criada por Deus.