Lemos em Jeremias 31,15:

Assim diz Javé: Escutem! Ouvem-se gemidos e pranto amargo em Ramá: é Raquel que chora inconsolável por seus filhos que já não existem mais.

Essa frase de Jeremias provoca alguma dúvida quando lida literalmente, pois de fato Raquel morreu antes dos seus dois filhos: José (Gênesis 30,22-24) e Benjamim. Diante disso, é evidente que a leitura literal não é a correta nesse caso. Como entender, então?

Há duas possibilidades, que não se contradizem, mas se completam.

A primeira é que Raquel é um nome que engloba todas as mães de Israel, tanto do Reino do Norte (Manassés e Efraim são netos de Raquel, filhos de José) quanto do Reino do Sul (Benjamim, junto com Judas, forma o reino cuja capital é Jerusalém). Quando Jeremias escreve, as mães desses dois reinos choram por causa da pressão dos reinos estrangeiros, de Babilônia em particular, que acabará por destruir Jerusalém e levar para o exílio seus habitantes, enquanto que a Samaria, capital do Reino do Norte, já havia sido destruída há mais de um século.

Outra maneira de interpretar Raquel que chova é uma visão profética. Lemos em Mateus 2,18:

«Ouviu-se um grito em Ramá, choro e grande lamento: é Raquel que chora seus filhos, e não quer ser consolada, porque eles não existem mais.»

Aqui quem chora são as mães das crianças inocentes assassinadas por Herodes, que deu a ordem de matar todos as crianças com menos de 2 anos que viviam em Belém, cidade a poucos quilômetros de onde foi enterrada Raquel.

Concluindo, o choro de Raquel representa as lágrimas das mães judias que choram pelos filhos que não existem mais, seja no tempo de Jeremias que no tempo da vinda de Cristo.