Deus é uma realidade perfeita, eterna e onipotente. Por isso não é possível imaginar que ele tenha se arrependido, que ele mude de ideia ou que ele cresça na compreensão de alguma coisa. Imaginar que isso aconteça com Deus é colocar as bases para limitar o seu poder. O poder dele é diferente da imagem que temos de poder. 

Deus transcende às nossas ideias e não pode ser "capturado" pelas nossas definições e imagens. Apesar disso, o ser humano não deixa de descrevê-lo, de pensar como Ele é feito, qual a sua natureza. É isso que constantemente faz a teologia, mas também quem experimenta, espiritualmente, a comunhão com Deus. Nós, constantemente, colocamos Deus dentro de nossas categorias e o definimos em base nos parâmetros que conhecemos e usamos no nosso quotidiano. Esse processo é imprescindível e ajuda a nos aproximar dEle. Todavia, precisamos ter consciência do limite desses pensamentos, dessas reflexões. Nâo significa que devmos abandoná-las, mas só saber que o que dizemos de Deus é imperfeito e não está à altura da sua natureza; todo discurso sobre Deus é sempre limitado.

A Bíblia é Palavra de Deus, mas é também palavra humana. Deus usou a história de Israel como meio através do qual se revelar. A Bíblai não foi ditada, mas escrita por pessoas condicionadas por suas ideias e ambientes em que viviam. Por isso, a Bíblia é, em certo sentido, "limitada" pelo contexto em que nasceu. Também a interpretação sobre Deus presente nas páginas bíblicas tem esses limites. Se ela diz que Deus é um guerreiro, que sai pro campo de batalha com os hebreus para derrotar o inimigo, também com a morte cruenta, não significa que Deus efetivamente mata as pessoas que são inimigas do seu povo. Essa era a percepção que quem escreveu a Bíblia tinha de Deus, mas hoje sabemos que não corresponde à natureza de Deus. O processo de revelação, do qual a Bíblia é expressão, nos mostrou que Deus não é uma pessoa que odeia, que mata, mas que ama incondicionalmente e espera sempre na conversão.

Outro exemplo: os hebreus pensavam que Deus era o unicamente o seu deus, ao lado de outros deuses, aqueles dos outros povos. Aos poucos, graças aos profetas, descobriram que Deus é de todos e não um entre outros, mas o único.

Concluindo e tomando em consideração a sua pergunta, se encontramos na história do Dilúvio, em Gênesis 6, que "Iahweh arrependeu-se de ter feito o homem sobre  a terra, e afligiu-se o seu coração" não quer dizer que isso efetivamente aconteceu com Deus, mas significia simplesmente que essa é a leitura que faz o autor sagrado sobre a atitude de Deus, revelando então a compreensão que ele tinha de Deus e passa a nós.

Em termos de Evangelho, que conta a história da encarnação de Deus, a história de Jesus, não existe uma passagem que descreva tal situação com ele. Mas poderíamos pensar, por exemplo, na conversa de Cristo com a mulher cananeia, que encontramos em Mateus 15,21-28, onde parece que a mulher cananeia "muda" a ideia de Jesus. De fato ele diz à mulher pagã que pedia a cura da filha endemoninhada: "Eu não fui enviado senão às ovelhas perdidas da casa de Israel", querendo dizer que não podia fazer um milagre a uma pessoa que não era do povo de Israel". A mulher insistiu e no final Jesus cura a sua filha doente.