Hoje, 18 de agosto de 2018, na Itália começa o campeonato de futebol. E a grande novidade é a estreia do jogador português Cristiano Ronaldo pelo Juventus. Quando foi contratado, lembro que algumas manchetes dos jornais sublinhavam o fato dele ser um dos poucos jogadores que não tem nenhuma tatuagem. Essa situação oferece para mim a oportunidade para fazer algumas reflexões sobre esse tema.

 

Na Bíblia

Como já dissemos, em várias respostas aqui no site, a bíblia não faz nenhuma menção à tatuagem tal como é praticada hoje. Normalmente os comentários que tratam desse assunto citam o texto de Levítico 19,28: “Não fareis incisões no corpo por algum morto e não fareis nenhuma tatuagem. Eu sou Iahweh”. Esse texto não fala absolutamente sobre a prática hodierna da tatuagem. Os versículos 27-28 falam, ao invés, de um rito de luto que era típico do mundo pagão. Isso fica evidente se prestamos atenção na presença do vocábulo “morto” no texto do versículo. O mesmo preceito, além do mais, é repetido em Deuteronômio 14,1. Além disso, a frase final, “eu sou Iahweh”, permite-nos situar corretamente o versículo e entender bem a mensagem da passagem, que quer simplesmente sublinhar que o verdadeiro Deus é Iahweh e não outros deuses pagãos. Portanto, não tome esse versículo para combater a tatuagem.

 

Algumas reflexões

Enquanto algumas figuras podem ser impressionantes e de mau gosto, reconheço que algumas tatuagens são bonitas. Creio que, como eu, muitos já se pegaram olhando para elas, tentando entender o significado, mesmo se a sua observação não é fácil, pois significa olhar para um corpo e isso pode ir contra as regras de boa educação.

Penso que uma tatuagem pode dizer muito sobre uma pessoa, revelando uma verdade ou também pode transmitir uma mensagem completamente errada.

Alguém que é tímido, provavelmente fará a tatuagem de uma frase cheia de vigor, exprimindo aquilo que não é e gostaria de ser. Às vezes uma tatuagem pode ser uma menção de um fato passado. Alguém, por exemplo pode escrever “a liberdade de ser eu mesmo não tem preço”, mostrando que no passado, pode ser pela própria mesquinhez, foi afastado de um grupo ou de uma pessoa que amava. Outros desenhos ou frases podem simplesmente dizer a verdade e, descobrindo um braço, podemos encontrar escrito “Fé em Deus”.

Antigamente, quem se tatuava eram os guerreiros. Eles faziam isso porque eram certos da sua posição e convicção e a mudança da personalidade individual era inconcebível e tida como uma traíçao e até um sacrilégio.

A tatuagem é um grande meio de comunicação; ela implica um dizer, um contar... A ausência de tatuagem, ao invés, convida a se perguntar.

Uma personalidade que muda, que é complexa, teria grandes dificuldades para se tatuar. Como poderia uma pessoa assim se contar através de uma frase fixa, indelével? Como é possível se a personalidade passa por mil filosofias e concepções do mundo? Nesse caso, qual tatuagem poderia contar as mil cores da vida de uma pessoa? Como poderia uma personalidade que passa por inúmeras transformações vitais, que mudou mil vezes durante a sua vida e ainda desejosa de outras tantas mudanças ter tanta certeza de si mesma e estar segura que uma tatuagem a representará por toda a sua vida?

Uma tatuagem no corpo de uma pessoa com personalidade mutável e complexa pode ser motivo de riso, sendo algo com o qual não se reconhece mais, ou de vergonha, por uma coisa que acreditava e se reconhecia no passado.

Ninguém que é aberto ao futuro se reconhecerá em um desenho antigo de si mesmo.

Que bonitos são os corpos tatuados, pelas respostas que nos dão! Que bonitos são os corpos sem tatuagem pelas perguntas que nos deixam fazer!