O livro de Daniel é muito importante para a tradição cristã e hebraica. Dele derivam vários ensinamentos presentes no Novo Testamento e também na literatura judaica intertestamentária. O Apocalipse, por exemplo, toma emprestado desse livro muitas imagens e as aplica à mensagem cristã.

Daniel se encontra entre os profetas, mas tem muitos elementos históricos. Foi escrito em um período quando se usavam imagens e figuras de linguagem muito difíceis para serem entendidas no nosso contexto. Trata-se, em síntese, de uma leitura esperançosa da história, de uma história cruel para o povo judaico, mas que contém em si uma mensagem de esperança na salvação trazida por Deus.

Por ser um livro difícil, é atraente. Mas, aproximar-se dele impreparados pode provocar graves distorções de interpretação e nos levar para estradas erradas. Essa consideração se aplica também ao capítulo 11, tema da sua pergunta.

 

Daniel 11

O protagonista desse capítulo é um rei odiado pelos judeus, pois, por volta de 160 anos antes de Cristo, profanou o Templo de Jerusalém, substituindo o sacrifício com outros cultos, a "abominação da desolação" (11,31), possivelmente sacrifícios de porcos ao deus Zeus. Esse rei é Antíoco Epifânio VI, que o autor chama de "miserável" (11,21). Ele é o "rei do norte", que tentou introduzir em Jerusalém os costumes e as tradições da grécia, implementando uma cultura helênica, contrária à religião dos judeus. Os judeus, através de Daniel, veem nele um inimigo, que apesar dos seus atos contra Deus prospera. Mas o capítulo sublinha também o fim que ele terá, contando tudo isso a partir do versículo 40: o seu inimigo será o "rei do sul", soberano do Egito. Graças ao Egito, esse carrasco do povo judeu chegará ao seu termo (11,45) e reaparece a esperança para o Povo de Deus.

O cerne do capítulo é esse momento histórico, que é descrito a partir do versículo 21, até o final. Antes disso, o capítulo conta uma série de informações históricas difícil de entender pela grande maioria das pessoas, sem a ajuda de notas e explicações por parte de alguém que conheça a história da Pérsia, da Grécia e do Egito, que condicionam a vida na região da Palestina durante os séculos V - II antes de Cristo.

Alguns elementos importantes são:

Pérsia: Dominava a Palestina. Personagem importante fora Dario, o medo. Torna-se forte, mas é freada pelo advendo de Alexandre Magno, que representa a Grécia, criando um império muito potente:

"Logo, porém, que ele surgir, o seu império será dividido e repartido pelos quatro ventos da terra. Seus descendentes não herdarão o seu império, nem será tão poderoso; seu império cairá em mãos alheias." (11,4)

O Império de Alexandre foi dividido, quando morreu, não entre seus filhos, mas entre seus generais, em 4 partes: os Ptolemeus no Egito, os Selêucidas na Mesopotâmia e Ásia Central, os Atálidas na Anatólia e os Antígonos na Macedônia.

Antíoco Epífanio foi um dos reis selêucidas.