A vocação é algo que todos nós temos. Nasce conosco, a partir do momento que somos gerados como filhos de Deus. A vocação essencial de cada um é o convite a sermos cristãos. Alguns se consagram de maneira radical, dedicando-sedurante toda a vida ao serviço do Senhor através de algum ministério. Muitos entre nós, invés, tentam viver a vida quotidiana praticando a vontade de Deus nos diferentes âmbitos de atuação diária.

Muitos personagens bíblicos foram chamados de maneira especial. Destacam-se os apóstolos, chamados pessoalmente por Jesus. Mas também os profetas. E provavelmente entre eles encontamos o personagem que você está procurando. É provável que se trate de Jeremias. Lemos no começo do seu livro (1,5-8):

«Antes de formar você no ventre de sua mãe, eu o conheci; antes que você fosse dado à luz, eu o consagrei, para fazer de você profeta das nações». Mas eu respondi: «Ah, Senhor Javé, eu não sei falar, porque sou jovem». Javé, porém, me disse: «Não diga ‘sou jovem’, porque você irá para aqueles a quem eu o mandar e anunciará aquilo que eu lhe ordenar. Não tenha medo deles, pois eu estou com você para protegê-lo - oráculo de Javé».

 

Quem foi Jeremias

Jeremias é da tribo de Benjamim e originário de Anatot, pequena cidade do interior. Embora de família sacerdotal, está ligado às tradições proféticas do Norte, principalmente a Oséias, e não às tradições do sacerdócio e da corte de Jerusalém. Como Miquéias, ele pertence ao mundo camponês. De maneira crítica, ele traz consigo a visão dos camponeses sobre a situação do país. A atividade profética de Jeremias se desenvolveu entre os anos 627 e 586 a.C.

Começou sua missão durante o reinado de Josias, louvado pelo profeta por causa das reformas religiosas que fez. Mais tarde, o profeta critica os reis que fazem acordos políticos por conveniência, abandonando a Lei de Deus (rei Joaquim).

Em seguida, a Babilônia surge como grande potência, sob o reinado de Nabucodonosor. Jeremias adverte os israelitas que os babilônios, em breve, invadirão o país. Por causa disso, ele é aprisionado como traidor. Assim mesmo, Jeremias continua denunciando o povo que se esqueceu de Deus, por falsear o culto, pela falsa segurança, pelas idolatrias e pelas injustiças sociais. E aponta os principais responsáveis: são as pessoas importantes que detêm o poder em Jerusalém (rei, ministros, falsos profetas, sacerdotes). Em 598 acontece a primeira deportação dos judeus para a Babilônia.

Nesse momento decisivo da história de Israel, Sedecias se submete aos babilônios e se mostra indeciso. Em tal situação política, surge uma questão religiosa: Afinal, quem é o povo de Deus? Os desterrados na Babilônia, ou aqueles que ficaram em Judá? Jeremias se nega a participar de uma visão simplista (cap. 24) e coloca o assunto dentro da política realista: Sedecias e a corte de Jerusalém são incapazes de salvar o povo do desastre. Por isso os deportados ainda são os que podem trazer esperança, pois estão aprendendo uma dura lição. Essa idéia leva Jeremias novamente para a prisão. Pressionado por seus oficiais, Sedecias tenta armar uma revolta contra a Babilônia. Avizinha-se o desastre previsto por Jeremias: Jerusalém é sitiada pelos babilônios. Entretanto, Jeremias também vê nos camponeses uma luz salvadora (32,15). Em 587 a.C. se dá a segunda deportação.

Em 586 a.C., Nabucodonosor resolve destruir Jerusalém completamente: incendeia o Templo, o palácio, as casas e derruba as muralhas. Mas concede que Jeremias fique no país. Então, o profeta vai viver com Godolias, novo governador da Judéia. Nesse mesmo ano, Godolias é assassinado por um grupo antibabilônico, que se vê forçado a fugir para o Egito, obrigando Jeremias a ir com eles. Ficam morando na cidade de Táfnis, de onde mais uma vez o profeta lança suas denúncias (cf. 40,7-44,30).