A sua pergunta abrange um âmbito da religiosidade popular muito interessante e que necessita de alguns esclarecimentos. Muita gente pensa que a desgraça e a prosperidade dependem de Deus. Essa convicção se resume em algumas frase muito comuns entre nós: "Deus dá e Deus tira"; "É vontade de Deus"; "Era o destino".

Começamos dizendo que é absurdo pensar que Deus possa querer o mal de alguém, sendo Ele o sumo bem. Por isso é mister excluir qualquer responsabilidade divina na morte de alguém, mesmo sendo ele uma pessoa pecadora, omissa ou, até mesmo, assassina. Deus nunca vai desejar a morte nossa e nem mesmo algum tipo de mal! Ele nos criou para dispensar a sua bondade, para nos fazer felizes. Como já repetido várias vezes aqui, todo o mal é escolha humana, consequência da nossa liberdade, dom supremo de Deus. De fato, poderíamos dizer: Se Deus quer que tudo que aconteça conosco seja o bem, por que ele não faz com que isso se realize? Porque nos deu a liberdade; não somos bonecos nas mãos de Deus!

Mesmo convictos de quanto dito acima, é verdade que a Bíblia apresenta muitos exemplos de situações de desgraças vistas como ações concretas de Deus: alguém que se comporta mal é imediatamente morto por Deus; Jó é privado de tudo e depois recebe tudo por causa de sua fé em Deus e assim por diante. Como ler isso?

Precisamos crescer na fé e entender que a Bíblia é a revelação de Deus na história; Deus fala através de pessoas limitadas pelo contexto do seu tempo, das percepções então existentes, também em nível teológico. Precisamos entender que a revelação acontece aos poucos, alcançando o auge em Cristo, onde Deus se revela plenamente. Com Cristo aprendemos que Deus faz chover sobre bons e maus, sem distinção.

Isso não significa que devemos rejeitar certas etapas do processo de revelação, como o Antigo Testamento. Ele serve também para nós, ainda hoje. Um matemático pode conhecer como resolver problemas complicados, equações de vários graus. Isso não lhe permite excluir a necessidade de saber fazer cálculos simples, como 1 + 1; até mesmo essa conta é fundamental para que possa resolver questões complexas. Nós também, embora conhecendo Cristo, não podemos ignorar as etapas anteriores da revelação. Mas devemos saber - é isso é maturidade na fé - que a revelação é progressiva, se desenvolve - ainda hoje -, conduzindo a Cristo.