Essa é a nossa fé, que deriva não só da Tradição, mas também da própria Bíblia. Em João 10:30 Jesus diz:

Eu e o Pai somos um.

 

Como entender esse "um"

É provável que Jesus tenha falado essa frase em aramaico. De qualquer forma, esse texto chegou até nós, através de João, em grego. O grego, e outras línguas (latim, alemão, etc), tem uma particularidade que nós, que falamos português, desconhecemos: o neutro. Em grego esse "um" é neutro. Em português, na verdade, temos um resquício desse neutro, por esemplo, no pronome 'esse', 'essa' e 'isso'. Os dois primeiros seriam masculino e feminino e o último neutro.

Em grego, o 'um' de João está no neutro. A tradução mais literal seria "eu e o Pai somos uma mesma coisa". O problema é o usar "coisa" para Deus. É por isso que muitas vezes se usa "somos uma mesma pessoa", isto é, "somos um". Mas isso faz com que o significado se perca.

 

A Trinidade

Sei que muitos de nossos leitores não acreditam nesse tema, mas é um aspecto teológico muito importante da tradição cristã e da revelação de Deus. O termo 'pessoa' provavelmente não é muito feliz e atrapalha a compreensão do conceito que está por traz dessa doutrina teológica. De qualquer forma, o texto que citamos de João é fundamental para essa tese histórica.

O motivo é que ela condensa em poucas palavras a distinção de pessoas e a unidade no ser. Há um só Deus, um só ser divino (“unum”), no qual há distinção de pessoas (“Ego et Pater”, com o verbo no plural, “sumus”), recorrendo ao clássico latim.

As palavras que seguem no texto de João ajudam a reforçar este significado, pois distinguem claramente entre o Pai e o Filho e, ao mesmo tempo, o Senhor diz que faz o que faz “para que conheçais e saibais que o Pai está em mim e eu no Pai” (versículo 38).