Aqui está, literalmente, a pergunta do nosso leitor:

Aparentemente o evangelho de Jesus é bem claro e não incentiva ninguém possuir grandes números de bens na terra. Há quem acredita que não se deve ter nada e Jesus não tinha nada. Cristo teve um discípulo rico, sim ou não? O que será que mudou?Jesus não é Deus? Deus não é mais o dono do ouro e da prata? Se ricos não pode entrar no reino dos céus, para onde irão Jó, Abraão, Isaque e Jacó, que, de acordo com a bíblia eram ricos? É engano ou uma parte de cristãos acredita em Deus e outra parte em Jesus? Ou seja, Deus dá prosperidade e Jesus não. É isto?

Há duas coisas importantes, que fiquem claras, que servem de base para uma resposta à sua pergunta:

  • Jesus é Deus
  • Jesus disse que não é fácil para um rico entrar no Reino de Deus (veja Mateus 19,24).

Acredito que reflexões como a sua nascem de um contexto onde se prega a prosperidade em troca do seguimento dos preceitos divinos. E sabemos que há pessoas muito fieis que são extramamente pobres, cheias de desgraças. Nascem, então, espontânea, a pergunta: como conciliar a indicação de Cristo sobre a bem-venturança dita aos pobres e a busca da prosperidade, pregada em algumas igrejas?

Já tivemos oportunidade de falar quanto seja sem fundamento a teologia da prosperidade, a pregação que promete uma riqueza material em troca de fidelidade a certas normas religiosas. Pode haver riqueza que deriva do ser discípulo, mas será ela também espiritual.

Sabemos bem que a riqueza atrapalha o seguimento de Cristo. Se fôssemos todos ricos, então não poderíamos dizer que ela é um empecilho à conquista do Reino de Deus. Todavia, mais da metade da população é pobre e muitos passam fome. Como pode o rico cristão não sofrer tal situação, visto que uma das nossas missões é a solidariedade, a justiça? Enquanto houver ricos de um lado e pobres de outro, há uma falta de implementação do Reino de Deus e há uma culpa, certamente não dos pobres.

A riqueza tem uma lógica própria, caracterizada pelo egoísmo, pelo egocentrismo, pela busca desenfreada do poder. Essa dinâmica contrasta com o modo de ser do cristão. É nesse sentido que Jesus diz que é difícil um rico entrar no Reino de Deus.

Note bem que disse "difícil", não "impossível". De fato, a riqueza, em si, não é um mal. A estrutura que a envolve é má. Todavia, quem está no seu meio pode transformar essa estrutura, pode dar um testemunho, não lógico, de seguimento de Cristo. Há muitos ricos que são bons cristãos. Todavia, a maioria não abre espaço em seu coração para acolher a Cristo, pois o tem cheio de outras coisas. Os pobres, invés, são livres, abertos a Deus.

O que Jesus ensina é que a riqueza e pobreza são duas situações físicas que comportam, ao mesmo tempo, de maneira geral, atitudes receptivas ou não em relação à mensagem de Deus.