O livro da Sabedoria, que não faz parte da Bíblia Hebraica e, por isso, também não aparece na bíblia dos evangélicos, foi escrito em grego, provavelmente um pouquinho antes de Cristo ou quem sabe até mesmo no tempo de Cristo, no Egito, em Alexandria. É um louvor à Sabedoria divina.
O livro da Sabedoria representa um ponto de encontro entre judaismo e cultura grega. Os destinatários do livro são os jovens judeus que viviam em Alexandria, no meio da cultura helenística, que eram tentados a abandonar, por causa da realidade em que viviam, a fé dos seus pais. Invés o autor quer dizer para eles que um judeu pode ser fiel a sua fe e ao mesmo tempo não necessariamente rejeitar completamente as propostas dum mundo aparentemente diverso.

Na primeira parte temos a apresentação da Sabedoria nas obras da vida de cada homem, que é recompensada pela vida eterna. Na segunda parte apresenta o papel da Sabedoria na vida do rei Salomão. Apresenta também a Sabedoria em ação, presente na criação, na história do povo de Israel. Ela pode ser resumida como irradiação de Deus. Ela não é uma "ciência", mas uma qualidade, que é dom de Deus, que tem consequências morais, pois conhecer Deus implica não apenas uma coisa abstrata, mas tem implicações na própria vida cotidiana. Poderíamos dizer que a Sabedoria é algo que não está muito longe do conceito cristão de graça.
Talvez aqui já se pode ver um indício de resposta a sua pergunta. Através da Sabedoria, de fato, a pessoa consegue distinguir e reconhecer o sentido das coisas, a manifestação da bondade e da potência de Deus, elementos estes que são por assim dizer o objetivo da Palavra de Deus dirigida aos homens.
Além desse fio condutor, que perpassa toda a Bíblia, o livro tem um elemento novo. Fala-se da imortalidade junto a Deus que a sabedoria dá aos justos (2,23; 3,1;3,15;6,19). Esse elemento aparece aqui pela primeira vez, cronologicamente falando, na Bíblia. Segundo a mensagem do autor do livro, a Sabedoria entra na alma de quem se abre a ela e a conduz no caminho do serviço de Deus até se tornar amigo de Deus (7,27).

O livro deve ser lido no contexto dos assim chamados "livros sapienciais", que compreendem Jó, Salmos, Provérbios, Eclesisastes (Qoélet), Cântico dos Cânticos, Sabedoria e Eclesiástico (Siracide). Esses livros entendem a Sabedoria como um bom senso elementar que está atento às situações da vida e preocupato com o seu sucesso e também se preocupa com a busca do sentido profundo da realidade, do sentido último que permete apreciar as finalidades mais preciosas da existência.