A ignorância pode ser fruto da falta de possibilidade de ter acesso a instrumentos que permitem criar uma consciência sobre um determinado âmbito da vida. Uma pessoa pode, cheia de boa intenção, promover, por exemplo, métodos de prevenção da concepção que são contrários à doutrina cristã e não ter consciência do mal que faz. Acredito que a sua pergunta abrange essa perspectiva.

Há diferentes modos de tratar esse tema. Alguns radicais afirmam que "a ignorância é uma culpa". Há ainda um princípio legislativo cunhato na célebre frase latina "ignorantia legis non excusat", que poderíamos traduzir como "a ignorância da lei não é uma desculpa".

Em relação à fé cristã, uma hermenêutica que nos ajuda a responder a sua questão pode ser a necessidade de separar o pecado do pecador. Jesus com seu exemplo, acolhendo tantos pecadores, nos indica essa estrada. Quantas vezes abraçou quem havia pecado... Quantas vezes conversou com quem era excluído por seu comportamento... Pensamos, por exemplo, na Parábola do Filho Pródigo, na escolha de Mateus, um pecador social e muitos outros exemplos. É claro que a todos exigiu uma mudança de vida: "vai e não peques mais". Fez a distinção entre pecado, coisa abominável, e o pecador, que deve ser sempre acolhido.

O pecado produz consequências que vão além da pessoa, que atinge a outros. É um mal em si, independente da concepção da pessoa. Se um camicase mata pessoas, a sua ação é pecaminosa, a prescindir da sua concepção religiosa. Tudo o que se faz de mal, independente do nosso grau de consciência, é condenado e deve ser transformado e evitado.