Cada comunidade tem uma certa práxis moral em relação às pessoas separadas. A separação, por exemplo, foi uma das várias causas que levou a criação da igreja anglicana.

Na Igreja Católica, o conflito entre separação e participação no sacramento da comunhão existe somente se a pessoa separada volta a se casar. Quem é separado e continua sua vida singularmente sempre pôde participar do sacramento, sem nenhuma restrição.

Esse princípio moral está ligado à concepção da indissolubilidade do matrimônio, isto é, o casamento é para toda a vida do cônjuge. Se esse compromisso não é respeitado, cria-se uma situação não ideal, que afasta a pessoa do sacramento.

Esse tema é muito debatido. Foi inclusive um dos protagonistas no último sínodo dos bispos, realizado no final de 2016 em Roma.

Esse encontro dos bispos de todo mundo, reunidos para falar sobre a família, deu origem ao documento lançado há poucos dias pelo Papa Francisco, intitulado "Amoris Lætitia", que fala exatamente da família (leia aqui o documento, em PDF).

Esse documento não fala especificamente da separação, todavia apresenta uma grande abertura, pastoralmente falando, em relação às pessoas separadas ou que, em geral, vivem situações ditas não conformes à regra católica. Por exemplo, no número 78 se lê:

«O olhar de Cristo, cuja luz ilumina todo o homem (cf. Jo 1, 9; Gaudium et spes, 22), inspira o cuidado pastoral da Igreja pelos fiéis que simplesmente vivem juntos, que contraíram matrimónio apenas civil ou são divorciados que voltaram a casar. Na perspectiva da pedagogia divina, a Igreja olha com amor para aqueles que participam de modo imperfeito na vida dela: com eles, invoca a graça da conversão; encoraja-os a fazerem o bem, a cuidarem com amor um do outro e colocarem-se ao serviço da comunidade onde vivem e trabalham. (...) Quando a união alcança uma estabilidade notável por meio dum vínculo público – e se reveste de afecto profundo, responsabilidade pela prole, capacidade de superar as prova- ções –, pode ser vista como uma oportunidade a encaminhar para o sacramento do matrimónio, sempre que este seja possível».

Além disso, hoje em dia existe a consciência que a Eucaristia "não é um prémio para os perfeitos, mas um remédio generoso e um alimento para os fracos" (veja nota 351 do documento do papa).

Os números 243-244 do documento falam diretamente do tema:

242: Os Padres disseram que « é indispensável um discernimento particular para acompanhar pastoralmente os separados, os divorciados, os abandonados. Tem-se de acolher e valorizar sobretudo a angústia daqueles que sofreram injustamente a separação, o divórcio ou o abandono, ou então foram obrigados, pelos maus-tratos do cônjuge, a romper a convivência. Não é fácil o perdão pela injustiça sofrida, mas constitui um caminho que a graça torna possível. Daí a necessidade duma pastoral da reconciliação e da mediação, inclusive através de centros de escuta especializados que se devem estabelecer nas dioceses». Ao mesmo tempo, « as pessoas divorciadas que não voltaram a casar (que são muitas vezes testemunhas da fidelidade matrimonial) devem ser encorajadas a encontrar na Eucaristia o alimento que as sustente no seu estado. A comunidade local e os pastores devem acompanhar estas pessoas com solicitude, sobretudo quando há filhos ou é grave a sua situação de pobreza ». Um falimento matrimonial torna-se muito mais traumático e doloroso quando há pobreza, porque se têm muito menos recursos para reordenar a existência. Uma pessoa pobre, que perde o ambiente protector da família, fica duplamente exposta ao abandono e a todo o tipo de riscos para a sua integridade.

243. Quanto às pessoas divorciadas que vivem numa nova união, é importante fazer-lhes sentir que fazem parte da Igreja, que «não estão excomungadas» nem são tratadas como tais, porque sempre integram a comunhão eclesial. Estas situações « exigem um atento discernimento e um acompanhamento com grande respeito, evitando qualquer linguagem e atitude que as faça sentir discriminadas e promovendo a sua participação na vida da comunidade. Cuidar delas não é, para a comunidade cristã, um enfraquecimento da sua fé e do seu testemunho sobre a indissolubilidade do matrimónio; antes, ela exprime precisamente neste cuidado a sua caridade ».