Esse fato acontece quando os soldados chegam para prender Jesus, no jardim das oliveiras, na quinta-feira, depois da Última Ceia. Todos os 4 evangelhos falam do evento, mas apenas João diz que se tratava de Pedro. Vejamos os textos.

  • Mateus 26,51: Nesse momento, um dos que estavam com Jesus estendeu a mão, puxou da espada, e feriu o empregado do sumo sacerdote, cortando-lhe a orelha.
  • Marcos 14,47: Mas um dos presentes puxou a espada, e feriu o empregado do sumo sacerdote, cortando-lhe a orelha.
  • Lucas 22,50: E um deles feriu o empregado do sumo sacerdote, cortando-lhe a orelha direita.
  • João 18,10: Simão Pedro tinha uma espada. Desembainhou a espada e feriu o empregado do sumo sacerdote, decepando-lhe a orelha direita. O nome do empregado era Malco.

É realmente um fato estranho, pois não esperaríamos que os apóstolos andassem atrás de Jesus com uma espada na bainha. Mesmo se os tempos eram outros, isto é, talvez não era anormal estar com uma arma, é algo que impressiona. Pode ser também que não se tratasse de uma espada, mas de uma faca ou algo parecido. De qualquer forma permanece o fato da violência, que claramente contrasta com a mensagem de Cristo. De fato, Cristo rejeita a ação de quem estava com ele («Guarde a espada na bainha. Por acaso não vou beber o cálice que o Pai me deu?»): não é possível para um cristão se comportar dessa maneira. O cristão e a violência são duas realidades contrapostas e a ação de Pedro nunca pode ser justificada, mesmo se fosse para salvar a vida do seu Mestre.

 

A tese da revolução

Há certas interpretações que tentam ver em alguns apóstolos, sobretudo em Judas, uma vontade de instaurar um reino de Deus terreno, um verdadeiro governo político. A traição de Judas não teria sido outra coisa senão uma tentativa de forçar Jesus a tomar uma decisão, a começar a batalha contra os opressores, contra os romanos que dominavam a Palestina naquele tempo. Essa tese retém que Judas pensasse que, conduzindo os soldados até ele, obrigasse o mestre a começar a tão esperada revolução, verificando-se, desse modo, a realização da aspectativa de um Messias libertador político. Dentro desse contexto poderia também ser lida a atitute de Pedro ou de outro discípulo que estava com Cristo, uma tentativa de começar a "guerra" para libertar o povo da opressão.

 

Em síntese

É evidente que existiam na Palestina grupos que esperavam um messias libertador, um messias político. Todavia não há evidências que os discípulos queriam que Cristo fosse esse messias esperado por alguns naquele tempo. A revolução de Cristo tinha o seu centro no coração e abrangia todos os aspectos da vida, também a política, mas ela não era o seu centro.

O ato do discípulo, do meu ponto de vista, creio ter sido simplesmente a reação humana de alguém que estimava o Mestre. Os evangelhos narravam tal fato para mostrar como esse seguidor não houvesse entendido corretamente a mensagem de Deus: a violência não se combate com outra violência, mas com o mandamento do amor.