Trabalhos do Curso de Especialização Estudos Bíblicos da Faculdade Católica de Santa Catarina (FACASC), sob a orientação da Professora Silvia Togneri.


Megiddo era uma cidade considerada estratégica, porque estava situada na entrada do Vale de Jezreel (Yizre'el), a norte de Jerusalém e a sudeste do Monte Carmelo, habitado desde 6.000 a. C.(Aula do Professor Luiz Dietrich em 08/10/2013 no curso de pós graduação da Facasc).  Foi uma metrópole geopolítica por longo tempo (entre o 4º milênio a.C. até o IV século a. C.). É bem provável que por volta do ano 3.000 a. C. já era cidade fortificada.

Ligou rotas comerciais internacionais importantes: com o nordeste (Hasor e Damasco), a norte das costas israelitas fenícias (Aco, Tiro e Sidônia) e a costa sul-central (Planície de Saraon, Filistéia e Egito). Assim cruzava a ponte da terra de Canaã para ligar aos distantes pontos do Crescente Fértil (Egito, ao sul) e Mesopotâmia ao norte. Para quem viesse do Egito, transitando pela Filistéia e pelo Vale de Saron, tinha que utilizar uma destas quatro passagens, que flanqueavam a cadeia do Carmelo para chegar à planície. Fortalezas foram edificadas para monitorar tais rotas: Jecnaâm (Js 12,22), Megiddo, Tanac (Jz 5,19) e Jibleão. Não há dúvida que a rota mais importante era a de Megiddo, como confirma uma notícia egípcia: “a tomada de Megiddo equivale à tomada de mil cidades”.

Sua importância é também por oferecer “porto seguro”, e por isso foipalco ideal de inúmeros confrontos (batalhas campais), pois oferecia o necessário suporte de água, hospedagem e trechos adequados para a movimentação de tropas. Josué (Js 12,21), Rei Salomão (1 Rs 9,15) e Rei Josias (2 Rs 23,30), todos se abrigaram no interior das suas paredes, que caíram com a invasão dos Assírios. Pesquisas iniciadas ainda no século no XX da nossa era revelam que a cidade (Megiddo atual) está acima e ao redor de 26 extratos de vestígios de cidades ancestrais (cidades sobrepostas), sendo que a primeira cultura detectada deve ter acontecido no sexto milênio a.C.  

Das muitas batalhas ocorridas em Megiddo e seus arredores (Jz 4-5; Jz 1,27; 2Rs 9,27) ressalto a vitória contra os cananitas e a de Gideão, que se sobrepôs aos Midianitas. Neste mesmo lugar, Josias, monarca israelita, lutou, em 609 a.C., contra o Faraó Neco II, que se deslocava para a Mesopotâmia, atendendo pedido de auxílio do soberano da Assíria, seu companheiro de lutas. O rei de Israel perece na batalha, ao lado de seus arqueiros (2Rs 23,29).

Há registros talhados nas muralhas do templo de Karnak em que Tutmósis III, então Faraó, da vitoriosa batalha ocorrida em + - 1.468 a. C., quando teriam sido levados os seguintes despojos de Megiddo: “340 prisioneiros e 83 escravos; 2.041 cavalos e 191 jumentos; 892 carros de guerra e um belo carro em ouro que pertencia ao Príncipe de Megiddo” (KAEFER, José Ademar. Arqueologia das Terras da Bíblia. São Paulo, 2008).

Em 1.918 d. C. houve uma última guerra, quando ingleses teriam derrotado os turcos otomanos.

 

Megiddo é chamada de Tell Megiddopelos judeus e Tell al-Mutesellim pelos árabes, tendo um grande significado, não só histórico e geográfico, mas também teológico, pois segundo a visão das Sagradas Escrituras, aí acontecerá o Armagedom (har = montanha e Magedon = Megiddo), ou seja, a luta final entre os exércitos de Cristo e as tropas comandadas por satanás(anti-cristo), após o cumprimento das previsões (bíblicas) escatológicas relativas ao Fim dos Tempos (Ap 16,6; Ap 16,13-16; 20, 1-3 e 7-10).  Megiddo também é mencionado em escritos egípcios, como o local do Armagedom, no Christian Book de Revelações.

Há relatos que os sionistas (Movimento para tornar a Palestina em um estado independente), cristãosou não, são os que mais cultivam a crença do Armagedom, e por isso usam subterfúgios e manipulações para tomar o poder no Oriente Médio, estimulando, desta forma, maior instabilidade, alimentando ainda mais os confrontos sangrentos que a muito tempo abalam esta região.

De acordo com suas convicções, os muçulmanos são os “inimigos” que devem ser combatidos, ao lado de quem não se alie aos exércitos de Jesus; assim, milhões de soldados integrarão este combate, uma vez que todos os países unirão esforços para se opor ao Cristo. Por tudo isso e principalmente por sua conotação apocalíptica, onde lhe é atribuído o local da Luta Final, Armagedom ganhou importância, a ponto de ser (a cidade atual) declarada, em 2005, Patrimônio Mundial da Unesco, ao lado de Hazor e Beer.

Em Tel Megiddo, agora Parque Nacional de Megiddo e patrimônio da humanidade, vê-se a imponência dos portões maciços, destinados à retenção das tropas egípcias na baía, e outros portões acima destes, estes últimos atribuídos ao Rei Salomão. Há registros que o Rei Salomão e sucessores teriam deixado, no Reino do Norte, outras obras de infraestrutura e edifícios públicos (1Rs 9, 15-19). Pesquisadores revelam a existência de um altar, redondo, onde os sacrifícios cananeus eram realizados. A partir disso podemos entender os escritos bíblicos sobre “lugares altos”, onde os cananeus e os Israelitas realizavam sacrifícios para seus ídolos (2Rs 23,19). Parte dos restos da cidade é do período de ocupação assíria (721-704 a. C.). Muitas obras, inicialmente atribuídas a Salomão, agora, estão sido atribuídas a outros reis (Acab, Josias ... ), e também que o Rei Salomão pouco ou nada teria construído.

Chama atenção a descida de 180 degraus para dentro de um poço e um túnel desbastado (obra prima de engenharia) para canalizar a água de uma nascente dentro da cidade no século 8 a.C., durante o reinado do Rei Acab, que foi o idealizador também de um grande silo, com sete metros de profundidade para armazenamento de grãos.  Não há evidências que Megiddo, nos tempos de Cristo, era uma cidade importante, mas historiadores encontraram uma ilustração histórica da natividade: as calhas de alimentação de pedra nos estábulos, dos dias dos reis dos israelitas, são semelhantes à manjedoura em que o menino Jesus teria sido colocado (Lc 2,7).

Escavações realizadas (novembro de 2005) mostram a existência de um assoalho de mosaicos, contendo inscrições em grego, dentre elas, uma “homenagem” a uma mulher chamada Akeptos, devota de Deus, como um memorial à mesa de Deus. Arqueólogos acreditam que, a menção da palavra mesa, e não altar, (um costume mais antigo) a Eucaristia naquele tempo ainda era conduzida ao redor de uma mesa, a exemplo da Mesa Eucarística dos primeiros Cristãos. Poderá estar aqui a igreja cristã mais antiga do mundo, podendo transformar os achados, no primeiro e único prédio do mundo, ainda existente, que tenha sido utilizado pelos seguidores do caminho (contemporâneo ao apostolado de Cristo). E por isso há a expectativa da restauração do local, para que possam novamente cultuar no templo (Igreja) primitivo. Estes achados e tantos outros mais, que pertenceram a diversas e diferentes civilizações, atraem atualmente, muitos visitantes, peregrinos e estudiosos do mundo todo, ávidos para entender Megiddo e seu contexto nos diversos períodos de sua história.

Pesquisas arqueológicas revelam ricas ruínas que englobam os ciclos do tempo cananeu do bronze antigo médio (Até o ferro II), onde não só foi encontrada a mesa dedicada a Akeptos, mas também o tesouro do bronze tardio com marfins cinzelados, estruturas de portões de várias datas de usos, sofisticado sistema de abastecimento de água (o já citado aqueduto), paióis (para armazenamento de grãos), estábulos, palácios. No tempo do imperialismo romano, Megiddo teve importância estratégica como Via Maris, como era chamada a estrada do mar que vai do Egito a Damasco. Teve uma longa história de convulsões e conquistas. As molas nas proximidades e um terreno fértil (2Reis 4, 1-7) atraiu colonos das primeiras idades da antiguidade. Era uma cidade com paredes formidáveis há + - 5.000 anos. Mil anos depois caiu sob o domínio egípcio. Mais tarde os cananeus conquistaram a cidade, liderados pelo rei David. Mesmo tendo sido refortificada (pelo Rei Salomão, Josias ou Acab), Megiddo foi tomada pelos assírios em 732 a. C. e finalmente demolida pelos egípcios em 609 A.C..

 

BIBLIOGRAFIA

  • PEREGO, Giácomo. Atlas Bíblico Interdisciplinar. Aparecida- SP: Ed. Santuário, 1998
  • KAEFER, José Ademar. Arqueologia das Terras da Bíblia. São Paulo, 2012.
  • Mapa: Site Scriptures.ids.org Novembro/2013.

Mapa de Meguido