Elias – o profeta

Elias foi um grande profeta, tão importante que os sábios da sua época disseram que ele não morreu, mas foi levado por Deus.

A experiência do deserto marcou a caminhada de Elias:

  • enfrentou o deserto de Carit: 1Rs 17,5
  • passou pelo deserto de Beershaba: 1Rs 19,3;
  • o deserto de Horeb: 1Rs 19,8.

A experiência profética e espiritual de Elias foi marcada não só pelo deserto geográfico, mas também pela experiência de um deserto interior. Teve momento de não saber, de estar perdido, de ter medo, de achar que tudo estava terminado, de querer fugir e morrer, de pensar só em comer e dormir. O seu deserto interior manifestou-se sobretudo no fato de querer encontrar Deus nos sinais tradicionais: no terremoto, no vento, no fogo, e perceber que estes sinais já não revelam mais a presença do Senhor. Eram como lâmpadas que já não se acendiam mais (1Rs 19,11-12).

No deserto Elias experimentou seus próprios limites. Não chegou a perder a Fé e a Esperança, mas não sabia como usar a Fé antiga para enfrentar situações novas.

 Elias, o homem da brisa leve

 

Atravessando o deserto de Beersheba, Elias entrou no deserto da montanha de Deus, o Horeb (1Rs 19,8). Lá ouviu uma pergunta: "Elias, que fazes aqui?" E ele respondeu:

"0 zelo pelo Senhor dos exércitos me consome,

porque os israelitas abandonaram tua aliança,

derrubaram teus altares, mataram os profetas.

Sobrei apenas eu, e eles querem me matar também ': (1Rs 19,10.14)

Percebe-se uma contradição entre a resposta e a realidade, entre o discurso e a prática de Elias. Sua afirmativa é que ele é o único que sobrou; mas na verdade havia mais sete mil (1Rs 19,18). Seu discurso diz que ele está "cheio de zelo", mas mostra-se um homem medroso que foge (1Rs 19,3). Conforme seu discurso, sabe analisar o fracasso da nação, mas não sabe reconhecer seu próprio fracasso. Elias não se dá conta de que a situação de derrota e de morte em que se encontra é o lugar onde Deus o atinge, pois não percebe a presença e a orientação do anjo. Ele só pensa em dormir e comer (1Rs 19,6).

Parece que Elias tem um defeito no olhar, talvez uma "hipermetropia espiritual" que o impede de perceber a realidade tal qual é:

-          ele se considera dono da batalha contra Baal;

-          acha que sem ele tudo estará perdido;

-          acha que Deus vai perder se ele, Elias, for derrotado.

Qual é a "trave" nos olhos de Elias?

Uma resposta possível é a da "brisa suave".

A "brisa leve" não deve ser entendida de forma romântica como uma brisa de fim de tarde, mas no sentido bíblico. De repente Elias emudece, se cala, se percebe desintegrado naquilo que vivia e pensava até aquele momento, se sente vazio e só. A brisa significa o fato que obrigou Elias a mudar radicalmente de vida e o levou a uma visão totalmente nova das coisas.

Qual foi a "brisa leve" que provocou a transformação de Elias? O texto não revela, mas sugere que foi a dolorosa descoberta de que o Senhor, o Deus de Israel, já não estava nem no vento, nem no terremoto, nem do raio -sinais tradicionais da manifestação de Deus. Deus jánão era como Elias o imaginava. Apesar de toda sua fidelidade e luta pela causa do Senhor, ele lutava por algo que já não era a causa do Senhor.

Elias descobriu que estava errado. Deus se faz presente na aparente ausência. A luz aparece na escuridão. A voz de calmaria suave era para o profeta o silêncio de todas as vozes

Pode nos vir o sentimento de impotência diante dos desafios, ou de que "só eu sobrei", ou ainda "de que vale lutar?". Quem sabe, como Elias, nos venha o desejo de fugir, de apenas "dormir e comer" e morrer. "O que aparenta ser, morrerá; mas o que realmente é, sobreviverá. A vida é mudada, não perdida. É bem diferente daqueles que morrem sem nunca se transformar".

Elias, homem que defende a vida.

A preocupação com a vida percorre a história de Elias e caracteriza seu caminhar. De muitas formas, Elias defendeu a vida do seu povo contra a morte e os sistemas de morte do rei. Ele revela a face de Deus, como o Deus da vida. Ele mostra para o povo que a lei não é valor em si, mas um caminho que deve defender e levar à vida. Ele chega a matar os profetas que defendem o sistema de morte, para garantir a vida do seu povo.

 Alguns aspectos do jeito de Elias defender a vida:

-          garante o alimento para combater a fome (1Rs 17, 14-16).

-          ressuscita o filho da viúva, que havia morrido (1Rs 17,23).

-          trouxe de volta a chuva pela força de sua oração (1Rs 18,42-45), pois o rei só pensava na vida de seus cavalos e a jumentos, enquanto o povo morria de ( fome por causa da seca (1Rs18,5).

-          foge para salvar a sua vida (1Rs c 19 ,3) , enquanto Jezebel persegue e mata os profetas e quer matar o próprio Elias (1Rs 19,2). n

-          defende a causa de Nabot, assassinado pela injustiça do rei e da rainha (1Rs 21,17-20).

-          vai para lugares fora de seu território: Sarepta, Carit, Horeb, pois lá onde existe vida humana o Senhor é rei

-          Elias parte para defender a vida e anunciar o Deus da vida. Sarepta, Horeb, Carit, não são apenas lugares geográficos, são o espaço onde a vida aconteceu como forte experiência de Deus, do Deus da vida e da Esperança.

Elias, o homem da oração.

Vendo as características do caminhar de Elias, sua fidelidade à Palavra, seu jeito de ser profeta, mesmo com medo, ele enfrentou os desafios e defendeu seu povo contra o rei e os Baals. Ele foi capaz de ser e realizar sua missão porque era um homem de Deus, que em tudo buscou o que O Senhor queria dele, estava em comunhão com O Senhor e era homem de oração. A oração era o espaço que lhe dava condições e forças para caminhar e ...

·         viver e experimentar o deserto,

·         descobrir a presença do Senhor na brisa leve,

·         defender a Aliança,

·         defender a vida do povo,

  • viver os conflitos sem desistir.
  • O texto bíblico apresenta alguns momentos e lugares onde Elias aparece rezando, buscando a face do Senhor, seu Deus:

1.  “Vivo é o Senhor em cuja presença estou”. (1Rs 17,1; 18,15). Este texto mostra a consciência de estar a serviço do Senhor e sua disponibilidade.

2. na casa da viúva, reza e consegue devolver a vida ao filho dela (1Rs 17,20).

3. critica a reza dos profetas de Baal (1Rs 18,27), e reza para que Deus se manifeste ao povo no monte Horeb (1Rs 18,36-37).

4. reza sete vezes e insiste até que apareça um sinal de chuva (1Rs 18,42-43).

5. reza para que desça o fogo do céu e mate os militares que querem prendê-lo e matá-lo (2Rs 1,10.12).

6. restaura o altar no Monte Carmelo (1Rs 19,4).

7.  reza queixando-se (1Rs 19,10.14) e pedindo a morte (1Rs 19,4).

8.  confronta-se com Deus na brisa leve (1Rs 19,12).

Estas passagens bíblicas mostram Elias como "Homem de Deus" (1Rs 17,24), disponível e aberto à ação do Espírito do Senhor (1Rs 18,12), "cuja palavra ardia como uma tocha" (Eclo 48,1), revelam sua intimidade com Deus.

No Novo Testamento, a carta de Tiago, relata o testemunho de Elias, como o Homem de Oração: "Elias era homem fraco como nós. No entanto, ele rezou bastante para que não chovesse, e não choveu sobre a terra durante três anos. Depois ele rezou de novo, e o céu mandou chuva, e a terra produziu seus frutos" (Tg 5,17-18).

O livro do Eclesiástico introduz a figura de Elias assim: "Então o profeta Elias surgiu como um fogo, sua palavra queimava como uma tocha" (Eclo 48,1). E diz ainda que "por três vezes fez descer fogo" (v. 3). O fim de sua vida é descrito assim: “foste arrebatado num turbilhão de fogo, num carro puxado por cavalos de fogo" (v. 9).

 O fogo é um símbolo e imagem do Espírito Santo. Foi assim que Ele se manifestou em Pentecostes (At 2,3-4). Elias é um homem arrebatado e tocado pelo fogo do Senhor, este fogo arde em seu coração de profeta. É o fogo da intimidade, da Esperança de ver seu povo libertado. É o mesmo fogo que o transformou e enviou "pegue o caminho de volta..." É este fogo interior que faz seu coração arder de zelo pelo Senhor, e lhe dá condições de apostar na esperança, pois a esperança não fracassará (Pr 24,14), porque sempre "existe esperança de um futuro" (Jr 31,17).

 

                                                           Baseado no artigo de HELENA TERESINHA RECH, STS