Antes de falar alguma coisa do contexto socioeconômico da cidade de Naim, olhemos um pouco o fato ocorrido com Jesus nesta pequena cidade na Galiléia.

Encontramos a narrativa em Lucas 7,11-16:

"E aconteceu que, no dia seguinte, ele foi à cidade chamada Naim, e com ele iam muitos dos seus discípulos, e uma grande multidão; E, quando chegou perto da porta da cidade, eis que levavam um defunto, filho único de sua mãe, que era viúva; e com ela ia uma grande multidão da cidade. E, vendo-a, o Senhor moveu-se de íntima compaixão por ela, e disse-lhe: Não chores. E, chegando-se, tocou o esquife ( e os que o levavam pararam ), e disse: Jovem, a ti te digo: Levanta-te. E o defunto assentou-se, e começou a falar. E entregou-o a sua mãe. E de todos se apoderou o temor, e glorificavam a Deus, dizendo: Um grande profeta se levantou entre nós, e Deus visitou o seu povo" (Lucas 7:11-16) Bíblia Almeida.

 

O que recebemos da tradição cristã na descrição deste fato

A pequena cidade de Naim, na região da Galiléia onde o Senhor ressuscitou o filho da viúva, esta situado 8 kilometros do monte Tabor, (lugar da transfiguração de Jesus) junto a Endor”, nome Bíblico conhecido. Um dos Santos padres, Eusébio de Cesárea, confirma a permanência da memória sagrada no séc. IV, lembrando em seus escritos este acontecimento e sua localização. Depois desta data, outras informações deste acontecimento vem de um testemunho anônimo (provavelmente do séc. V-VI), recolhido e descrito por um monge beneditino chamado Pedro Diácono (sec. XII), assim ele descreve:

“Na casa da viúva, na qual o filho foi ressuscitado, agora existe uma igreja, e a sepultura na qual seria colocado existe até hoje.”

Outro testemunho acerca desta localização encontramos nos escritos de (frei Nicoló de Poggibonsi), que afirma:

Uma “bela” igreja existia ainda em Naim no século XIV”, mas a partir do século XVI não se fala mais do que ruínas.

A igreja atual, simples e modesta, foi construída em 1881 sobre os restos da antiga. Conserva duas valiosas pinturas do fim do século XIX.

 

Realidade sócio econômica atual dos poucos habitantes

A população da vila de Naim hoje em dia é totalmente muçulmana. Encontra-se cercada de diverso kibutzin que povoam esta região da Galileia devido ao Vale de Jesrael, propício para a agricultura. Cultura de algodão, milho, trigo, etc... Cultivo de frutas como abacate, laranjas, amendoeiras, além da criação de gado leiteiro e gado confinado para o abate. Ainda existe criação de galinhas poedeiras e para o abate, além de produtos hortigranjeiros.

Nesta região a industrialização caminha a passos largos para compensar, a baixa lucratividade da produção agrícola.

A maioria dos habitantes desta vila de Naim busca seu sustento, no trabalho que encontram nas cidades de Nazaré, Afula e Haifa. Encontram trabalhos na construção civil, e no trabalho agrícola nos Kibutzin. À noite voltam para suas casas nas pequenas cidades muçulmanas.

 

Naim na época de Jesus

Naim (em hebraico significa Aldeia da consolação) localizada no sopé do monte Tabor, sendo uma vila muito pobre, formada por pequenos agricultores que vivam das plantações de Oliveira, cultivo do trigo, ainda plantações de uvas, figos e criação de animais nas encostas da montanha que começava a se elevar a partir do vale de Jesrael. Naim não esta distante da cidade de Cafarnaum, apenas um dia de Caminhada, ou Tiberíades, capital da província, ou Nazaré e outras cidades da região.

Naim também significa aconchego, tranquilidade, calma, o que nos leva a crer que aquele era um bom lugar de se viver.

 

A situação da viúva no Tempo de Jesus

Ser uma mulher é muito difícil ainda em nossos dias, mas ser mulher israelita do tempo de Jesus era alvo de grande discriminação imposta pelas tradições Judaicas e Lei escrita nos livros sagrados, mesmo porque a constituição familiar era de estrutura patriarcal. Se via mais coisas ruins na mulher daquilo que ela significava realmente na sociedade Judaica. Por exemplo, no Templo de Jerusalém tinha lugar definido, permanecia somente no Pátio das mulheres. Sem trabalharem fora de suas casas elas não estavam de forma alguma preparadas para sobreviver economicamente sem o seu marido, a sociedade não estava preparada para isto. O sustento da casa era trazido pelo trabalho do marido. As mulheres dentro do mundo Judaico, raramente saíam à rua antes do seu casamento e mesmo depois de casadas, quando saíam, tapavam o rosto com um véu, como hoje ainda os muçulmanos radicais preservam.

Quando criança, até aos doze anos, a mulher aprendia todos os trabalhos domésticos e era propriedade de seu pai. Na época do casamento era vendida para o noivo. Seu pai tinha direitos sobre ela. A educação da mulher era diferente da que recebiam os seus irmãos e o seu casamento era decidido por seus pais, muitas vezes sem seu conhecimento.

Ainda, em caso de falecimento do marido, as mulheres não podiam herdar os bens do seu marido, pois o território de Israel estava distribuído pelas suas tribos que a Lei tentou preservar e a mulher poderia ser de outra tribo diferente da de seu falecido marido.

A viúva, se não tivesse pelo menos um filho, que pudesse herdar as terras de seu pai, continuava de certa maneira ligada ao seu falecido marido e deveria esperar que algum dos seus cunhados a tomasse como mais uma de suas mulheres em respeito pela memória de seu irmão (chamada Lei do Levirato). Só depois dos seus cunhados a rejeitarem e depois de cumpridos os rituais que constam do texto que mencionamos em Deuteronômio é que ela poderia tentar novo casamento.

Assim, a expressão que aparece no texto de Marcos e de Lucas "viúva pobre", nesse contexto cultural, leva-nos a imaginar uma viúva que não tivesse filhos, nem cunhados que a recebessem, nem quaisquer meios de subsistência. Então vemos que ser uma viúva naqueles tempos não era nada fácil.