Quando pensamos no "depois da morte" trabalhamos sempre com categorias humanas. A vida para além da morte, na nossa cabeça, é uma continuação da nossa humanidade. Isso cria aspectativas, às vezes, ridículas. A vida depois da morte, invés, é divina, eterna. Ela não pode mais ser tratada e analisada com nossos conceitos. Precisamos de outros. Por exemplo, o tempo será ainda feito de segundos? Talvez não! Morremos e tudo acontence, sem necessidade de esperar, pois não existem mais dias, horas... Não sabemos como tudo será.

Somos confortados pelas palavras bíblicas, que nos ensinam a esperar na vida eterna (Mateus 25,46; João 11,25; 1Coríntios 6,14; 15,12-13), mas nada nos é dado saber sobre como ela será. Portanto não dou uma resposta direta a sua pergunta, por que não tenho, mas aproveito para partilhar uma reflexão.

 

Aprofundando o tema da vida depois da morte

Cada vez que se lida, em temos de explicação, com o tema da vida após a morte, encontramos-nos diante de alguma dificuldade. Parece quase que as categorias teológicas que existem para explicar essa questão não são mais válidas, pois convencem pouco. Normalmente, aquilo que aprendemos é resumido pelo Catequismo:

Ao morrer, cada homem recebe na sua alma imortal a retribuição eterna, num juízo particular que põe a sua vida em referência a Cristo, quer através duma purificação, quer para entrar imediatamente na felicidade do céu, quer para se condenar imediatamente para sempre.

Isso acontecerá, sempre como aprendemos, no Juízo Final:

O Juízo final terá lugar quando acontecer a vinda gloriosa de Cristo. Só o Pai sabe o dia e a hora, só Ele decide sobre a sua vinda. Pelo seu Filho Jesus Cristo. Ele pronunciará então a sua palavra definitiva sobre toda a história. Nós ficaremos a saber o sentido último de toda a obra da criação e de toda a economia da salvação, e compreenderemos os caminhos admiráveis pelos quais a sua providência tudo terá conduzido para o seu fim último.

A verdade é que todos nós esperamos na vida eterna, que exista alguma coisa depois da morte. E dessa esperança nascem diversos cenários futuros, normalmente muito humanos. E creio que é neste ponto que erramos, pois criam esperanças irracionais. E hoje não estamos mais dispostos a aceitar tais expectativas sem razão. Com Kant, perguntemo-nos: o que é lícito que eu espere? 

É frustrante, mas cabe a cada um buscar a resposta. Todavia penso que não podemos mais responder simplesmente que a Vida Eterna, que não sabemos como e o que é, deva ser entendida com a fé e ponto. Ou seja, acredito que seja necessário enquadrá-la dentro da nossa racionalidade, não para limitar o seu sentido, mas para permitir que o homem moderno espere por ela. Demócrito, filósofo que viveu antes de Cristo, dizia que as esperanças de pessoas não inteligentes não tem razão de ser. Fica o desafio de sermos inteligentes e usar argumentos acessíveis à realidade moderna para fazer com que se continue almejando a vida eterna.