O nosso leitor faz uma colocação mais elaborada, que reproduzimos integralmente aqui abaixo.

Sou judeu e sempre tive uma dúvida sobre a diferença entre o catolicismo e o evangelho sobre o tema de vida após a morte. Os católicos acreditam que após a morte a alma é julgada e vai ou para o céu ou para o inferno, já os evangélicos acreditam que após a morte a alma permanece adormecida até a volta de cristo. Minha pergunta é: qual passagem justifica estes argumentos e por que existe esta divergência de pensamento?

 

Os cristãos em geral acreditam que, após a morte, comparecemos diante de Deus para o juízo final. Nisso, católicos e evangélicos – e também judeus-, nas várias denominações, coincidem. O juízo final é uma promessa também presente no Antigo Testamento (Malaquias 3,5; Salmos 1,5; 96,13; Daniel 7,10). Entre os vários cristãos provavelmente existem diferenças em relação ao “quando” esse juízo acontece. Podemos considerar a possibilidade que esse juízo coincida com a Parusia de Cristo, isto é, com a sua segunda vinda, no “fim dos tempos”. Esse tema é discutido principalmente por Paulo, especialmente na Primeira Carta aos Tessalonicenses, quando ele escrevia a uma comunidade preocupada com o destino dos mortos e que tinha dúvidas sobre os acontecimentos relativos à segunda vinda de Cristo (veja especialmente 1Ts 4,13-18). Mas Paulo também nos ensina que não podemos separar a segunda vinda com a ressurreição de Cristo, pois é nesse evento crucial da nossa fé que reside a esperança e a certeza de fé que ilumina o nosso futuro encontro com Cristo.

Se por um lado Paulo costuma falar de parusia como um evento eminente, João sublinha uma “escatologia presente”, especialmente no último capítulo do Evangelho. Por outro lado fala também do “último dia”, sendo Cristo descrito como nos discursos escatológicos dos Sinóticos, com termos apocalípticos. Essas duas dinâmicas mostram claramente que existe um progresso do pensamento teológico já dentro do próprio Novo Testamento. A reflexão mesmo dentro da Bíblia é em evolução. E ainda hoje nos perguntamos quando é este “último dia”, como acontecerá, como chega para nós esse dia? Qual é o percurso cronológico? Existe purgatório? Quando tempo ficaremos ali, “esperando”?

Não existe uma resposta para isso. Ou melhor, não sabemos!

Pessoalmente penso que a teologia deveria fazer mais esforço na busca de respostas. Mas também tenho certeza que erramos ao pensar em categorias temporais que são típicas nossas. É verdade que não temos à disposição outras categorias e são apenas essas que podemos usar. De qualquer forma, podemos imaginar que elas não são adequadas para descrever o "tempo" depois da morte, a eternidade. Acredito que na eternidade não exista um "antes", "agora" e "depois", mas uma continuidade, uma unidade. Se assim é, é errado perguntar “quando”. Penso que o juízo divino é algo que acontece em todo momento, “aqui e agora”.

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