Essa história que você menciona é contada em Daniel 1, cujo contexto é a presença de jovens hebreus na corte de Nabucodonosor. Dentre os israelitas, exilados na Babilônia, foram escolhidos alguns moços que deveriam servir ao rei que destruíra Jerusalém. Para esse serviço era necessário uma “educação” de três anos, depois dos quais começariam o serviço ao Rei.

Entre esses jovens estavam Daniel, Ananias, Misael e Azarias.

Não tenho certeza sobre a existência de um significado desses “três anos”. É provável que seja simplesmente o desejo de sublinhar o período longo de esforço ao qual os jovens deviam se submeter.

Todavia, quero destacar que o tema mais importante nessa história é a fidelidade dos jovens hebreus a seus costumes e às práticas religiosas, mesmo servindo a um rei estrangeiro, que destruiu o Templo de Jerusalém e conduziu o povo ao exílio.

 

Daniel entre história e simbolismo

A história que lemos nos primeiros capítulos desse livro têm como contexto, como dito acima, o exílio na Babilônia. Todavia, graças à análise do texto e outros elementos das histórias contadas, é evidente que esse texto foi escrito muito mais tarde, na época da resistência dos judeus contra o rei Antíoco Epifânio, rei selêucida, que tentou cancelar a religião judaica em Jerusalém e implantar os costumes gregos. Os Macabeus foram os grandes heróis do povo judeu, defendendo os próprios valores e principalmente a própria religião.

O exílio em Babilônia é um cenário ideal para suscitar a resistência dos Macabeus diante da presunção e arrogância de Antíoco Epifânio IV. O exemplo de Daniel – e dos outros jovens – que conservam sua fidelidade religiosa, inspira a resistência dos judeus contra a ocupação grega.

 

Antíoco Epifânio

Ele foi um político muito inteligente, que tentou conquistar de maneira não ortodoxa o domínio sobre grande parte do território do Império Romano no Oriente Médio. Fez muitas trapaças, mas não teve muito sucesso, principalmente em relação às suas tentativas de dominar o Egito. Teve também muitos problemas na Judeia. Para contentar e obter o apoio da aristocracia de Jerusalém, que tinha pedido e obtivo a cidadania de Antióquia, instaurou na cidade, junto ao templo, o ginásio e mais tarde promoveu a profanação do templo e sua consagração a Júpiter, a destruição dos livros sagrados, a proibição da circuncisão, perseguição e despojamento daqueles que não aderiram à nova ordem da cidade.

Os judeus, que permaneceram fiéis à religião dos seus pais, juntaram-se à família dos Asmoneus, que, juntamente com Matatias, Judas Macabeus e seus irmãos, iniciaram uma revolta, e através de uma longa história de episódios de resistência e heroísmo, mantiveram viva a oposição ao domínio selêucida nesta parte do reino, levando-o ao enfraquecimento.

Tudo isso aconteceu por volta de 160 anos antes do nascimento de Cristo, enquanto que o exílio na Babilônia foi a cerca de 600 anos antes do nascimento de Jesus.

Essa história da resistência é contada nos dois livros dos Macabeus, presentes exclusivamente nas Bíblias católicas.