Não é fácil de responder, pois entre os judeus existem diferentes correntes e não existe uma posição unânime entre essas correntes, uma declaração que acumuna a todos no que concerne a Jesus. Por outro lado, existem vários escritores judeus famosos que deixaram suas impressões sobre Jesus.

Desde há algum tempo, nota-se que o judaísmo e o cristianismo têm em comum uma grande relutância: em aceitar plena e abertamente o fato de que Jesus era judeu. Nós cristãos muitas vezes criamos para nós mesmos a imagem de um Cristo desenraizado da sua terra, do seu tempo e do seu povo. Para os judeus, porém, durante muitos séculos, Jesus foi aquele em cujo nome foram perseguidos e por isso era difícil considerá-lo um deles.

Hoje em dia, como é correto que seja, essa relutância, infelizmente ainda em poucos ambientes é superada.

Entre os judeus que falam de Jesus, podemos citar alguns

Claude Montefiore, um expoente do judaísmo liberal na Inglaterra, foi um dos primeiros a escrever um comentário sobre os Evangelhos do ponto de vista judaico. Seu trabalho não apresenta tantas idéias originais, mas dá uma síntese dos estudos feitos sobre os Evangelhos, na época, por estudiosos cristãos. Montefiore falava num tom tão irênico que às vezes era acusado de se aproximar demais do cristianismo, embora ele mesmo sempre permanecesse fiel ao judaísmo.

Um outro autor é Klausner, que tentou compreender e apresentar Jesus em seu contexto histórico. A originalidade do seu livro reside na apresentação de um estudo de Jesus a um público judeu em língua hebraica. Klausner enfatiza o ambiente judaico no qual Jesus viveu e no qual se situa o seu ensino. Ele afirma: "Jesus de Nazaré foi exclusivamente um produto da Palestina, um produto do puro judaísmo, sem qualquer adição estranha. Havia muitos gentios na Galileia, mas Jesus não foi de todo influenciado por eles... Sem exceção, o seu ensino é inteiramente explicável através do judaísmo bíblico e farisaico do seu tempo".

Na década de 60 do século passado, apareceram uma série de livros sobre Jesus, escritos por judeus. Um deles é "Nós Judeus e Jesus" de Samuel Sandmel. Até sua morte em 1979, o rabino Sandmel era professor de Sagrada Escritura e literatura helenística no famoso Hebrew Union College em Cincinnati, nos Estados Unidos. O seu trabalho é muito sóbrio, dirigido principalmente aos judeus. O autor traça o desenvolvimento histórico na compreensão de Jesus por cristãos e judeus. A sua intenção é informar e ajudar para uma melhor compreensão mútua entre judeus e cristãos. O principal interesse não é tanto o Jesus histórico, mas na situação dos judeus e cristãos de hoje.

Outro autor é Pinchas Lapide. Há muitas obras suas, especialmente em alemão, e muito deles são o resultado de conferências ou programas de rádio ou televisão, por vezes em diálogo com teólogos famosos como Rahner, Moltmann e Küng. O livro mais provocativo intitula-se "A Ressurreição: uma experiência de fé judaica". Nele Lapide argumenta que a idéia da ressurreição individual estava presente no judaísmo do tempo de Jesus e que, portanto, Jesus poderia ter ressuscitado (e depois morrer novamente), como ele mesmo havia ressuscitado Lázaro.

David Flusser, famoso pelo seu trabalho sobre os Manuscritos do Mar Morto e outros textos judeus, escreveu um livro sobre Jesus que foi um grande sucesso editorial, com tradução em várias línguas. Nele Flusser tentou fazer compreender melhor a figura de Jesus, que ele via como um representante do judaísmo genuíno, próximo do farisaísmo, mas crítico dele. Flusser abordou duas frentes: por um lado, queria libertar os cristãos do que considerava um ceticismo demasiado impiedoso dos exegetas, especialmente causado pela influência de Bultmann; por outro lado, nas entrelinhas, ao fazer certas críticas de Jesus aos fariseus, queria também criticar certas correntes do judaísmo moderno. Por isso ele vê Jesus como uma figura importante não só para os seus, mas também para o nosso tempo. Essas ideias ele as desenvolveu e em certos aspectos modificou-as num trabalho sobre as parábolas de Jesus. Ele tenta analisar qual é a essência das parábolas de Jesus e qual é a sua relação com as parábolas rabínicas. Ele afirma que "só entendemos corretamente as parábolas de Jesus quando as consideramos como pertencentes ao gênero literário das parábolas rabínicas".

 

Em conclusão

A visão hebraica de quem foi Jesus, do ponto de vista teológico, certamente continua sendo um fato que divide judeus e cristãos. Todavia, vários autores, judeus e cristãos, juntos conseguem reconhecer nele um mestre e a vítima da opressão. Por exemplo, existe uma longa tradição judaica, acualizada de maneira especial durante a Shoah (a perseguição nazista), que reconhece em Jesus um judeu perseguido. Também nós cristãos deveríamos assumir essa reflexão e assim colocar Jesus de volta ao seu contexto judeu,  e o sofrimento que no passado muitas vezes dividiu judeus e cristãos pode talvez tornar-se cada vez mais profundamente um elemento de solidariedade e um novo ponto de partida para o diálogo interreligioso.