E continua a nossa leitora (de Alicante?):

Pergunto porque vejo nos livros de samuel que o proprio Samuel, Davi etc. fazem sacrifícios a Deus em qualquer lugar, sem aparentes consequências. Deus parece aceitar as ofertas deles...

Christina, a sua pergunta é muito oportuna, pois efetivamente em um dado período da história de Israel essa era mesmo a prática: o culto dos judeus foi centralizado em Jerusalém, particularmente no templo. Todavia, é preciso ter consciência que essa situação não é assim tranquila em todo momento da História da Salvação. Vamos ver melhor.

Segundo o Pentateuco, o Povo Hebreu recebeu durante a caminhada pelo deserto, escapando da escravidão do Egito, as regras que indicavam como deveria ser o culto (veja Êxodo 25 seguintes). Essas regras eram inerentes à "Tenda" ou "Tabernáculo", que foi o templo provisório durante os 40 anos do Deserto. Mas essa é uma "figura" do grande Templo de Jerusalém, que foi construído somente com o Rei Salomão, portando depois de Samuel, Saul e Davi, que, assim, não podiam prestar culto nesse templo, que ainda não existia, quando viveram.

O tabernáculo é uma realidade típica da peregrinação pelo deserto. A partir do momento que o povo entra na terra, a "tenda" não é mais mencionada, embora apareça a Arca da Aliança, que passou por diferentes locais (veja os primeiros capítulos de 1Samuel), até que finalmente Davi, de maneira solene, a levou para Jerusalém (2Samuel 6).

A partir de Salomão, o Templo de Jerusalém tornou-se o lugar de culto privilegiado. Essa visão é uma confirmação daquilo que lemos em Deuteronômio 12, onde se recomenda que todos os sacrifícios de Israel sejam levados para um único lugar. Mas é provável que tudo isso não tenha sido uma coisa imediata e seja uma realidade ideal, pintada pelo autor que escreveu provavelmente na volta do povo do exílio na Babilônia. Na prática Yahweh provavelemente era cultuado em outros lugares do território onde moravam os hebreus. Com a divisão do reino, depois da morte de Salomão, Jerusalém era o centro do culto para a Judeia, mas na Samaria o Senhor era adorado sobre o monte Garizim (veja Josué 8,30-35 - Monte da bênção > conferir Deuteronômio 11).

Tendo a Samaria sido derrotada e levada em Exílio, em 722 antes de Cristo, o local perde importância do ponto de vista do judaísmo oficial. Os Samaritanos continuarão a própria existência de maneira separada, embora se vê por exemplo no tempo de Jesus que existe uma vontade de conciliação, uma vontade de superação dessa divisão, como disse Jesus à Samaritana (João 4):

Mulher, crê-me que a hora vem, em que nem neste monte nem em Jerusalém adorareis o Pai.

Apesar dessas considerações, é fundamental ter presente o papel do Templo na construção da identidade do povo judeu e da sua religião, que está à base também do cristianismo. Por meio do culto no Templo Deus participa da história do povo eleito e se manifesta, revelando-se a todos nós.