O arianismo é uma doutrina que trata da natureza de Cristo e por isso tem muito a ver com a Bíblia.

Um monge chamado Ario (ou Arius), que viveu cerca de três séculos depois de Cristo (256-336), defendia a ideia de que Cristo fosse substancialmente inferior a Deus, que ele inicialmente não existia e que foi criado somente em um período posterior. Jesus teria sido a primeira criação de Deus (veja Colossenses 1,15). A consequência, dita de maneira bastante geral, é que Jesus é um semi-deus, um ser sobrenatural, mas não igual ao Pai.

Na sua época, Ário teve apoio de alguns personagens influentes da igreja, principalmente da igreja de Cesareia, como Eusébio. Na África, ao invés, havia muito resistência às suas ideias, que se manifestavam principalmente através de Atanásio de Alexandria.  Eles defendiam a tese de que Jesus era da mesma substância do Pai, teologia que ficou conhecida como o termo grego “homoousios”.

Esse contraste dentro da Igreja fez com que o Imperador Constantino convocasse uma reunião para tratar do tema, em 325. Esse foi o Concílio de Niceia.

 

O Concílio de Niceia

É claro que o Imperador não tinha o objetivo primário de evidenciar a correta interpretação da Bíblia. Para ele, o importante era garantir a segurança do império e não podia deixar crescer duas correntes que disputavam entre si o poder. Por isso pediu que os teólogos decidissem o que era correto.

Ário não conseguiu impor suas ideias e predominou a tese contrária a ele. Elaborou-se um “símbolo”, um creio, uma definição dogmática relativa à fé em Deus, no qual aparece o termine “homoousios”, normalmente traduzido como “consubstancial”, que literalmente significa “de igual essência”. Essa é a base dogmática do cristianismo que chegou até os nossos dias.

Como consequência, quem defendia a tese de Ário foi considerado herético e o próprio Ário foi mandado em exílio para Iliria, região balcânica, atualmente Croácia.

Foi a primeira vez que uma reunião de bispos dirimiu sobre uma controvérsia teológica. Poderíamos dizer que nesse momento nasceu a ortodoxia.

 

Como julgar o arianismo

Existem algumas correntes cristãs que têm dificuldades em conceber a Trinidade e por isso tendem a se inclinar para doutrinas muito parecidas com o arianismo. Deus teve um filho, Jesus, que embora seja “filho de Deus”, é de uma categoria inferior, criatura, criado em algum momento e, portanto, não eterno.

Obviamente essa visão contradiz com quanto ensinado pela Bíblia, especialmente no prólogo do Evangelho de João (veja também João 10,30; Filipenses 2,6; Apocalipse 3,14):

No princípio era o Verbo, e o Verbo estava junto de Deus e o Verbo era Deus.
Ele estava no princípio junto de Deus.
Tudo foi feito por ele, e sem ele nada foi feito.

A declaração de Atanásio, na época da controvérsia com Ário, continua válida para nós hoje:

“Deus é Pai apenas porque é o Pai do Filho. Assim o Filho não teria tido começo e o Pai estaria com o Filho eternamente. Portanto, o Filho seria o filho eterno do Pai, e o Pai, o Pai eterno do Filho.”