Não há nenhum indício em nenhum lugar, nem mesmo fora da Bíblia, de um eventual contato entre os dois, entre João Batista, o precursor do Messias, e Pedro, o líder dos apóstolos. Portanto, excluiria qualquer possibilidade de Pedro ter sido discípulo de João Batista.

Sabemos que Jesus era parente de João Batista, visto que sua mãe foi ajudar a "parenta" Isabel, nas montanhas da Judeia, quando ela estava grávida (veja Lucas 1,39-41). Mas mesmo assim, a única informação sobre eventual contato entre os dois se encontra na narração do batismo de Jesus por João Batista, no Jordão (Mateus,3,13;15 e paralelos).

Pedro foi chamado por Cristo no Lago da Galileia, enquanto trabalhava, como pescador. Torna-se discípulo de Jesus e não fora antes discípulo de João Batista.

 

João Batista e seus discípulos

Segundo os evangelhos, João era alguém que reunia discípulos (João 1,35), mas ele tinha consciência que depois dele viria alguém maior, de quem não era nem mesmo "digno de tirar-lhe as sandálias" (Mateus 3,11 - veja principalmente João 1,19 seguintes). João era alguém importante até ao ponto de ser interrogado pelo povo se ele era o Messias. Mas esse deixou claro que não era o ungido (Lucas 3,1ss). Isso mostra que era alguém conhecido e tido com muita estima por quem o seguia. Até mesmo Jesus o tinha em grande consideração, pois o definiu como Elias que devia vir (Mateus 17,12), como o último dos profetas da Primeira Aliança (Mateus 11,9.13; Lucas 16,16).

É possível dizer, em certo sentido, que Jesus viveu à sombra de João Batista até que ele foi decapitado (Marcos 1,14). Herodes, por exemplo, pensou que Jesus fosse João redivivo (Mateus 14,2; 16,14; Marcos 6,16).

Em volta do Batista, como já dissemos, provavelmente se criou uma comunidade, um verdadeiro movimento; havia gente que o seguia que vinha inclusive de Alexandria, no Egito, e Éfeso. Esse grupo tinha uma maneira de ser particular, inserida dentro do giudaísmo, mas que era distinta de outros grupos existentes, como os fariseus e saduceus. Era um movimento penitencial, de natureza escatológica, centrado na vinda do Messias. Tinham uma vida austera (veja Mateus 3,4) e pregavam a conversão. Eram muito críticos com o governo, contra Herodes, que vivia no adultério (Mateus 14,3) e também com os saduceis, tidos como liberais diante da Lei, e criticavam a hipocresia dos fariseus.

Mesmo depois da sua morte, João Batista continuou tendo seguidores. De fato, eles enterraram o seu mestre (Marcos 6,29). Alguns veem, como hipótese, os discípulos de João também nas primeiras comunidades cristãs, como em Atos dos Apóstolos 18-19.

 

Jesus discípulo de João?

Não existe dúvida que João Batista esteve muito presente na vida de Cristo, principalmente o batismo e a sua mensagem. Mas é preciso dizer que Jesus seguiu uma estrada completamente diferente daquela do Batista. Isso se pode ver já no seu comportamento, percorrendo o país inteiro, inclusive a capital Jerusalém, ensinando no Templo. O ensinamento que passou a seus discípulos se baseava no amor, que se coloca acima de tudo, superior às normas legais e à ascese. Sobretudo a sua mensagem era diferente, pois pregava a salvação a todos, de maneira universal: a salvação que anunciava era destinada a todos as pessoas, de todas as raças e de todos os tempos.

Portanto, mesmo não excluindo uma admiração e um contato entre os dois, é preciso concluir que Jesus não podia ser um discípulo do Batista, mas alguém que seguiu a própria estrada.