Essa pergunta entra mais no campo da cristologia propriamente dita do que da exegese. Embora seja graças à aplicação do método histórico na leitura dos evangelhos a colocar perguntas sobre Jesus Cristo, sobre a consciência que ele tinha da própria divindade, da própria vida e da própria morte salvífica, da própria missão, da própria doutrina e também do projeto de fundar a Igreja.

Na verdade, não é fácil dar uma resposta. De qualquer forma, como aconselha 1Pedro 3,15, devemos estar sempre prontos a dar razão da nossa esperança a todo aquele que no-la pede. E a verdade é que não poderíamos ter confiança em um salvador que ignorasse ser tal ou não quisesse sê-lo.

Olhando a Bíblia, resulta bastante evidente que Jesus tinha consciência da relação filial com o Pai: o seu comportamento, suas palavras traduzem uma autoridade que supera aquela dos antigos profetas e que pertence unicamente a Deus. Essa sua autoridade vinha da sua relação singular com Deus, que ele chama de “meu pai”. Portanto, tinha consciência de ser Filho de Deus e, nesse sentido, de ser ele mesmo Deus. Isso se fundamenta em diferentes passagens bíblicas. Podemos citar, por exemplo João:

  • 10,30: eu e o Pai somos uma coisa só;
  • 10,38: o Pai está em mim e eu no Pai.

Esse “eu” tem a mesma dignidade e Yahweh, como aparece em Êxodo 3,14.

Outra evidência é a consciência de Jesus da sua missão: anunciar o Reino de Deus e torná-lo presente na sua pessoa, nas suas ações e palavras para que o mundo fosse reconciliado com Deus. Aceitou a vontade do Pai: dar a vida para a salvação de todos; sabia ser enviado por Deus para servir e dar a própria vida por muitos, como diz Marcos 14,24.