No Gênesis temos duas narrações da criação. A primeira é aquela que conta Deus, durante 7 dias, cria tudo. A segunda começa em Gênesis 2,4b e tem a criação iniciando pelo homem. É nesse segundo relato, dito javista, que aparece a frase que você cita.

Gênesis 2,18 diz:

Iahweh Deus disse: "não é bom que o homem esteja só. Vou fazer uma auxiliar que lhe corresponda"

depois, em Gênesis 2,20 continua:

O homem deu nomes a todos os animais, às aves do céu e a todas as feras selvagens, mas, para o homem, não encontrou a auxiliar que lhe correspondesse.

A palavra hebraica usada para "auxiliar" é ‘ê·zer (עֵ֖זֶר) - veja aqui as ocorrências desse substantivo na Bíblia.

Não é difícil de interpretar "auxiliar", uma "ajuda". Todavia, é igualmente importante ver o que se diz depois, isto é "que lhe correspondesse". Usa-se a palavra hebraica "chenegdo" (כְּנֶגְדּֽוֹ). O significado é "alguém como diante dele", "alguém correspondente a ele", sua outra parte, que encaixa em sua natureza, como ele na forma, constituição e disposição. É como se fosse uma segunda metade.

 

Os dois relatos da criação

Sabe-se que os relatos bíblicos da criação, no início do Gênesis, são dois, um que narra os sete dias da criação, o outro sobre a criação do Jardim do Éden. Estamos diante de duas representações "míticas" do início do mundo. Mítico não significa fantasia, não real, mas uma maneira de falar sobre coisas que têm muita importância, mas que não se sabe como explicar com palavras simples. Essas duas narrações, que nasceram de maneira oral em períodos diferentes, representam a consciência que o homem bíblico tinha a respeito da criação.

Quem, no final, colocou as diferentes tradições juntas e criou o livro do Gênesis decidiu conservar os dois relatos, pois provavelmente os viu como complementares. De fato, se trata de duas maneiras de ver o  nascimento do mundo e o plano que Deus do ponto de vista do crente. São duas perpectivas diferentes, mas pelo simples fato de terem sido colocadas lado a lado, são, como disse, complementares.

Quem escreveu o livro do Gênesis quis colocar os dois relatos um imediatamente depois do outro, violando uma lógica aparente. De fato, poderíamos nos perguntar se temos que pensar de um jeito ou do outro a criação. Na verdade, não são dois mitos um colocado depois do outro, mas formam um conjunto, uma sinfonia com dois movimentos, dois modos diferentes de dizer a mesma coisa, onde o segundo relato se insere no primeiro, dando à reflexão uma dialética particular.