A pergunta completa da nossa leitora é a seguinte:

Eu queria entender por que, dentro de uma denominaçao onde frequentam 10 mil fieis por culto, na hora dos testemunhos, aparecem 2 ou 3 abençoados dizendo que passavam fome, viviam de favores e tal e, de repente, fieis ao dízimo, ficaram milionárias, com carros importados, com 3 ou 4 empresas e várias mansões, ganhando fortunas. De 10 mil fies por culto, 2 ou 3 dão testemunhos, e o restante, por que Deus não ajudou? Tem muita gente que dá tudo que tem porque se encanta com esses testemunhos nos quais fica impossivel acreditar.

Realmente é muito difícil acreditar em tais depoimentos. Parece que têm o único objetivo de comover e induzir as pessoas a colocar a mão no bolso e enriquecer os dirigentes das igrejas. O bem material é um dom de Deus para o viver conforme a sua vontade, mas não é uma recompensa, que atinge a uns e condena a outros. De fato, como se diz na Bíblia, Deus faz chover sobre bons e maus. A riqueza é dada a bons e maus, independentemente da própria conduta religiosa.

É claro que a conduta religiosa condiciona a nossa relação com os bens: um religioso verdadeiro não pode ser apegado a seus bens materiais, pois precisa buscar tesouros mais preciosos, que, falando de maneira cruel, podem ser colocados junto conosco no caixão, quando morrermos. Todo mundo que abraça os ensinamentos de Jesus, se tem dinheiro, precisa ser generoso, se quer ser coerente com a mensagem recebida. Mas eu acredito que essa generosidade não é exclusivamente destinada aos pastores ou líderes das igrejas. A pessoa generosa dá, sem olhar a quem, mas privilegia os pobres, pois esses são os amados por Deus.

O dízimo às igrejas, literalmente falando, não tem mais sentido. Os participantes das comunidades devem, isso sim, ajudar na manutenção do templo. E isso precisa ser feito com uma administração transparente. Além disso, o pedido de outros recursos só seriam justificados se tivessem um fim solidário. E nunca deveria ser uma participação obrigatória, mas voluntária. Ninguém pode condicionar a minha relação com Jesus a partir da minha participação no dízimo pedido pelo pastor! Não dê nada a sua igreja que influencia negativamente a sua sobrevivência. E se você quiser contribuir com alguma iniciativa, peça transparência na gestão dos fundos.

O dízimo biblico, como já sublinhando por nós aqui, tinha, é verdade, primeiro o objetivo de ajudar na sobrevivência dos levitas, que não tinham recebido herança, que não ganharam um pedaço de terra na hora da divisão da terra prometida. Mais tarde, o objetivo do dízimo e de todas as outras "taxas" se tornou a solidariedade, principalmente com as viúvas e os órfãos, duas categorias emarginalizadas na sociedade bíblica.

Se você quer verificar a correteza do dízimo que dá, se pergunte, a você mesmo e também à comunidade, para onde está indo o dinheiro que se dá. Se for para o bolso do pastor ou dos líderes, que já têm sua herança, algo está errado. Se for para ajudar os pobres, o princípio é bom. Mas mesmo assim, sinta-se livre de dar pouco, pois o pouco com Deus é muito.

 

A teoria da prosperidade é um tema teólogico bíblico. Faz parte da evolução teológica pela qual passou o povo e que serve como pedagogia também para nós. Às vezes podemos ler textos que mostram que a fidelidade a Deus traz prosperidade. Um exemplo emblemático é a vida de Jó, que graças a sua fidelidade ganhou muito mais do que aquilo que tinha. Todavia, a mensagem de Cristo, como escrita na Bíblia, é uma interpretação humana, que evolui com o tempo. Somos privilegiados por que podemos beber da fonte, do ensinamento de Cristo. Todavia, há quem prefira não seguir a evolução teológica e não consegue ver a verdade. É por isso que o Antigo Testamento serve ainda para nós, por que graças ao percurso que ali é descrito, podemos perceber a grandeza da mensagem de Cristo.

Uma atenta análise da realidade já bastaria para mostrar como a teologia da retribuição financeira não é correta. De fato, quantas pessoas íntegras na fé conhecemos na vida, que na realidade são podres materialmente? Seríamos enganados pela aparência? Certamente não. A verdade é que a riqueza que conquistamos seguindo a Cristo não se traduz em bens materiais, mas em bens espirituais, que não perecem e contam para a eternidade, como mostra Jesus em várias parábolas.