Anderson nos manda uma pergunta bastante complexa, que colocamos aqui abaixo

Por que um deus "onisciente, onipotente, onipresente, transcendental, imaterial, atemporal, pessoal e necessário" não é, afinal, auto-evidente? Por que uma entidade com tais atributos - esqueçamos as contradições por um momento - não está permanentemente, majestaticamente, irrefutavelmente diante de nós? Por que não é universalmente aceito como óbvio, real e verdadeiro? Por que precisa ser ensinado? Por que não é reconhecido instantaneamente por todos os seres conscientes? Por que é desconhecido por ampla parcela da humanidade?

São perguntas muito legítimas. Porém, você comete um erro fundamental do ponto de vista teológico. As perguntas que faz tem a ver com a nossa percepção de Deus e não com a sua natureza. Conforme sua natureza, ele é tudo o que você disse: onisciente, onipotente, onipresente... Todavia, quando se relaciona conosco, respeita a nossa natureza humana, conservando a índole que nos foi dada, isto é, a liberdade. Nós somos criaturas divinas, criadas não como escravos, mas marcados com o dom da liberdade. Somos nós que escolhemos de nos relacionar ou não com Deus. Dessa escolha depende a nossa percepção de Deus. Mas indepentdentemente da nossa escolha, Deus é imutável.

Para alguém que não crê, Deus não está em todo lugar, não conhece tudo e também não pode tudo; está ausente, é ineficaz e até inútil. Quem crê, invés, não pensa assim e consegue ver, com os olhos da fé, quem verdadeiramente Ele é.

Para nós seria muito mais fácil, pensamos, que Deus interviesse na história, de maneira prepotente, determinada. Mas a lógica divina é outra, pois nos deixa como protagonistas da nossa própria história.

A imagem de duas pessoas apaixonadas pode nos ajudar. Acontece escutar crônicas que contam como um namorado mata a outra, muitas vezes por ciúmes. O assassino diz que amava tanto aquela namorada que não suportava o contado dela com outros. Será isso verdadeiro amor? Ou será uma escravidão para a pessoa amada? Se alguém ama verdadeiramente, deixa o outro ser aquilo que é, dá liberdade e se compraz com isso. Assim é Deus: nos ama e nos deixa livres. Cabe a nós decidir de abraçá-lo ou ignorar.

Já Paulo dizia que a cruz é motivo de escândalo. Realmente não é fácil entender um Deus que morre na cruz. Só pode ententeder isso quem realmente tem fé. Fora da fé, essa lógica divina não tem sentido.