O texto literal mandado pelo Rogerio diz assim:

Na minha paroquia está tendo um curso de teologia para leigos e o padre que esta ministrando falou que devemos fazer uma leitura extraindo do texto o sentido e não o que afirma o texto biblico. Por exemplo, Jesus não ascendeu ao céu como imaginamos, a passagem do povo hebreu pelo Mar Vermelho a pé enxuto nao foi daquele jeito. Enfim, coisas que me deixaram perplexo. Pergunto, isto se ensina mesmo em teologia?

Rogério é uma pergunta muito difícil de responder e com a qual estou intimamente ligado, pois eu também costumo dar cursos na Paróquia e ponho para mim mesmo, muitas vezes, esse problema: Como tratar certos textos bíblicos. Por exemplo, muitos veem na criação contada por Gênesis um texto literal. Devemos insistir dizendo que essa leitura está errada ou devemos "revelar" que se trata de uma leitura a posteriori, que não conta os fatos como realmente aconteceram?

Há poucos dias, na minha paróquia, tratamos sobre o Evangelho de João. Todo mundo sabe que João é particular, que tem muitas coisas que lhes são próprias, que não aparecem nos outros três evangelhos, ditos sinóticos. Por exemplo, João sublinha muito os diálogos de Jesus, coisa que não aparecem nos outros evangelhos (Samaritana no poço, Nicodemos, etc). Será que esses diálogos realmente aconteceram? Se sim, por que os Sinóticos não falam deles? A mesma coisa se poderia dizer para as Bodas de Caná.

A reflexão nos levou a concluir que João, no final do Século I, há 60 anos depois da morte de Cristo, escreveu coisas que não teria escrito logo depois da morte de Cristo. O tempo o iluminou, o Espírito revelou coisas que antes não estavam claras. O Espírito é o mesmo Cristo. Portanto, mesmo se não foi Cristo que pronunciou aquelas palavras, elas vêm sempre dEle, através do seu Espírito.

 

Fatos contados literalmente ou interpretados?

Essa última reflexão mostra quão complexo é o tema. Eu tenho certeza que a Bíblia precisa ser interpretada e cada história contada tem uma lógica própria. Nela há elementos que vem de histórias vividas; há outros que são fruto da reflexão de longos anos e transcendem os fatos. Não dá para tomar um parâmetro e aplicar a tudo aquilo que se diz no texto sagrado. É por isso que é importante o estudo.

É fundamental acreditar que a Bíblia parte de uma experiência histórica. Essa é uma afirmação hermeneutica fundamental. Sem ela se incorre em tantos erros. Ao mesmo tempo, as narrações bíblicas não têm intenção de serem textos históricos, mas testemunhança de fé. Os fatos são coloridos com a leitura do fiel.

Além disso, muitas vezes se usa recursos literários para narrar uma verdade. Se a criação não representa um fato histórico, ela é, mesmo assim, um narração verdadeira, pois, em síntese, diz que a criação é obra de Deus. E essa verdade nós precisamos defendê-la. Como ele criou, não sabemos.

 

Teologia e exegese

A ciência que estuda a Bíblia é a exegese, enquanto que a Teologia fala de Deus. Há muitos que fazem exegese sem serem verdadeiramente teólogos. Essa ausência de relação é discutível, mas existe. Acredito que um verdadeiro exegeta não pode prescindir da sua fé em Deus e até mesmo acho difícil ler e estudar a Bíblia sem um background religioso. De qualquer forma, a missão do exegeta e fornecer elementos para que sejam "usados" pelos teólogos para formular os princípios do discurso sobre Deus.

Portanto, a teolgia não se ocupa de dizer se um evento bíblico é verdadeiro ou não, mas sublinha como o que se encontra na Bíblia é inspirado por Deus, é revelação, é Palavra de Deus.

 

Concluindo

Creio que aos poucos os "informadores" cristãos precisam abrir os olhos dos fieis para verdades que durante muito tempo não foram bem explicadas. Ao mesmo tempo é preciso ter cuidado para não simplificar essas verdades, deixando se levar pelo sensacionalismo. O perigo é criar um vazio. Essa estrada não é a correta. É preciso revelar, mostrando uma realidade superior e não privar o texto de sentido teológico.