Esse fato, contado pelos quatro evangelista (Mateus 26; Marcos 14; Lucas 22 e João 13) é um dos tantos elementos bem conhecidos da narração da Paixão de Cristo. O apóstolo Pedro, protagonista entre os discípulos, diz a Jesus que poderá acompanhar a Cristo até mesmo na prisão e na morte. Diante dessa determinação do apóstolo, Jesus lhe diz: "Pedro, eu te digo: o galo não cantará hoje sem que por três vezes tenhas negado conhecer-me" (Lucas 22,34).

Entre os evangelistas existe pequenas diferenças no texto, comparando com o citado de Lucas:

  • Mateus 26,34: "esta noite, antes que o galo cante, me negarás três vezes";
  • Marcos 14,30: "antes que o galo cante duas vezes, me negarás três vezes";
  • João 13,37: "o galo não cantará sem que me renegues três vezes".

Essas diferenças não são fundamentais e podem ser explicadas em base a eventuais diferentes fontes dos evangelistas. Lembramos que Mateus e João poderiam ter estado presente, quando Jesus disse essa frase. Marcos e Lucas, que não foram apóstolos, souberam dessa informação por via de fontes.

Às vezes, quando lemos a Bíblia, pensamos que tudo seja simbólico e outras vezes temos certeza que o que está escrito é literal. Essas duas interpretações se acumulam nos leitores da Bíblia.

Não creio que devamos interpretar simbolicamente a figura do galo. Basta que nos conloquemos no contexto de uma vida mais modesta, parecida com aquela da roça, muito diferente das cidades modernas. No sítio, é o galo a anunciar o amanhecer. Também na Jerusalém antiga. O galo indica um novo dia e, em específico, aquele em que Jesus morreria sobre a cruz.

Diante do testemunho de fé e adesão de Pedro à mensagem do Mestre, Jesus coloca o apóstolo com os pés por terra. Com palavras é muito fácil ser fiel, jurar coerência. Com os fatos é mais difícil. Nós, muitas vezes, somos como Pedro. Pensamos que podemos seguir sempre a Cristo, mas facilmente, logo depois do nosso firme compromisso, podemos vacilar e trair a promessa que fizemos. O canto do galo serve a Pedro para recordar as palavras de Cristo; é como se fosse a voz da sua consciência. A virtude dele está no fato que ouviu o cantar do galo e lembrou da mensagem de Cristo. Nós estamos dispostos a ouvir a voz da nossa consciência, o canto do galo, e recordar o nosso compromisso?