Assim Letícia conta a sua história:

Há alguns meses, por problemas estruturais em minha casa, eu e meu marido estamos morando com minha avó, que é católica. Este fato nunca me escomodou, até a semana passada, quando ela comprou uma imagem enorme de "Nossa Senhora" e a colocou na sala. Para evitar brigas peguei uma bíblia dela e marquei com passagens que falam sobre idolatria. Não marquei a Bíblia, mas coloquei papéis nas páginas com os versículos escritos. Mas ela, invés de ler, me repreendeu dizendo que não era da minha conta. O que eu faço? Há algo na Bíblia que me mande adverti-la ou estou mesmo sendo intrometida?

Acredito que o seu caso é emblemático e pode nos ajudar a refletir. Pode ser de luz ou elemento de "briga" para muitos. Sem querer acirrar os ânimos, convido cada um a fazer uma séria reflexão pessoal.

Perguntas fundamentais para uma reflexão deveriam partir já da vida quotidiana, aquém da religião em si: como conviver com o diferente? Todos têm que ser iguais? Quanto estou disposto a ser flexível? Uso de prepotência quando trato de um argumento, querendo impor o meu pensamento, ou estou aberto ao diálogo, que supõe escuta?

Sobre o culto às imagens, já demos nossa opinião várias vezes aqui no site e não quero ser repetitivo. Gostaria de poder promover o diálogo entre católigos e evangélicos, embora saiba que seja de verdade difícil. Penso que os católicos devem se abrir à crítica feita pelos protestantes, pois de fato há exageros no culto aos santos. Por outro lado, os evangélicos não podem pretender sepultar 2 mil anos de tradição, ignorando o percurso da piedade popular que marca a fé de tanta gente.

No caso concreto seu, creio que seja bastante significativo que você tenta impor uma sua ideia em um lugar onde é hóspede. Talvez seja uma atitude bastante prepotente. Sei que queremos que os outros percorram a mesma estrada nossa, mas que direito temos de condicionar assim a eles? E quem disse que o modo de ser deles não é melhor do que o meu e que aquele meu é o correto? Não pode ser que você esteje errada? Sei que você dirá que a Bíblia é o parâmetro. Mas sabemos muito bem que a Bíblia é um livro vivo, que é interpretado cada dia, por você e por sua vó. Tenha certeza que ela também a interpreta e também acredita em Deus. Por isso, o mútuo respeito é imprescindível.

Ora, é claro que o respeito não exclui a conversa. Mas como estamos dispostos a conversar? A minha conversa tende a ser uma pregação? Um monólogo? Estou disposto a escutar as razões do outro? Isso vale tanto para você quanto para a sua vó!