É uma questão inteligente, que perturba a alguns de nós e tem uma relação direta com a concepção que se tem de Deus e do seu papel na nossa vida. Para alguns Deus é o responsável último para tudo o que acontece no mundo enquanto que para outros Deus nos deu a liberdade de ação, iluminados pela sua graça.

 

Sodoma e Nínive

Os dois episódios que você cita são descritos em Gênesis 18 - 19 e no Livro de Jonas. Gênesis mostra como Abraão tentou aplacar a ira do Senhor, determinado a destruir Sodoma, Gomorra por causa da sua perversão. Não pode impedir a destruição delas, pois não haviam nem 10 justos nelas. Foi salvo somente Ló, o sobrinho de Abraão.

A outra história é contada pelo Livro de Jonas, que foi enviado por Deus à temida cidade inimiga dos Assírios, Níníve, e lá, depois de várias peripécias, conseguiu a conversão de seus habitantes. Essa história, que é uma parábola, é lembrada por Jesus como dito por Mateus e por Lucas. Mateus 12,40 sublinha o fato que como Jonas esteve três dias no ventre do peixe assim também Jesus estará três dias no ventre da morte. Lucas 11,32, invés, compara a pregação de Jesus àquela de Jonas.

 

Elemento comum: misericórdia divina

Há vários aspcetos nessas histórias, muito diferentes em seus contextos. O mais determinante é a abertura de Deus em aceitar a conversão, aberto a acolher a mudança de vida. Com Abraão, teria salvado as cidades mesmo se lá existissem apenas 10 justos. Também Nínive, cidade condenada, seria salvada se a gente de lá se convertisse. E assim aconteceu.

 

Respondendo à pergunta

Deus não salva alguns e abandona outros. Para todos têm a mesma atitude; é como o sol, que ilumina a bons e maus, como a chuva que cai sobre santos e pecadores. Nos dois casos citados, é evidente a abertura divina, mas falta, no caso de Sodoma e Gomorra, a disponibilidade à conversão dos seus habitantes: ninguém era justo! O ser justo é uma decisão de cada um de nós. Dentro de nós temos o embrião da salvação; somos, em princípio, justificados, mas decidimos aceitar ou não essa justificação.

Quando acontece alguma tragédia ou quando nos deparamos com situações contrastantes (pobres e ricos, doentes e sadios, etc), não podemos julgar a Deus. Tudo o que é mal é consequência da escolha humana.

Alguns poderiam sugerir: por que Deus não faz o bem para todos? Se fôssemos assim, fantoches, que dignidade teríamos. Somos livres e esse é o grande presente de Deus. Nos criou para amá-lo e somente nisse reside a felicidade, mas não nos obriga a seguir essa estrada, embora seja a única que nos realiza. Seguir ou não a Deus é uma questão de liberdade e nós tomamos tal decisão todos os dias.