Nos últimos tempos, por questões professionais, estou observando o comportamento da sociedade moderna, consequência da comunicação digital, essa realidade que tem mudado o nosso comportamento. Há várias evidências de que estamos diante de uma mudança de época, graças à comunicação digital. Uma vez a comunicação era mediada pelos editores, pelos jornais, pela televisão e rádio. Hoje cada um se tornou um informador e já não queremos mais só ouvir, mas sobretudo dizer o que pensamos. E os jornais, muitas vezes, não trazem mais notícias originais, mas coisas que estão em moda na rede. Todos somos comunicadores e, muitas vezes, sem competência para tanto.

Uma consequência direta desse status – a aqui chego ao objetivo dessas linhas – é a impressão de que tudo está perto, que com um click consigo ter resposta para qualquer coisa. Isso, sem dúvida, é facilitado pela capacidade que têm os motores de busca em colocar diante de nós respostas para questões mesmo antes que nós a formulamos. Essa realidade faz com que tenhamos uma coleção de respostas. Tudo se tornou óbvio, fácil de encontrar e, devagar, já não nos perguntamos. Tudo é afirmação e o questionar-se, aos poucos, perde sentido. E quando decidimos fazer uma pergunta não significa que se pretende uma resposta, mas, na maioria das vezes, busca-se uma afirmação daquilo que se acredita. É assim, por exemplo, aqui no site: muitos não "ouvem" a resposta dada, mas a rebatem, tentando afirmar a própria convicção. O diálog é fundamental e supõe escuta. A revelação de Deus, na história, através da Bíblia, é um diálogo. Deus não se impõe, não dita sua palavra, mas conversa, interage, tem paciência, educa o seu povo como um pedagogo.

Outro aspecto crítico é a falta de abertura à supresa. Penso que sem perguntas, inundados por respostas, ficou pouco espaço para a surpresa. Se temos respostas para tudo, o imprevisível não tem vez.

Também em relação à Bíblia, temos respostas para tudo e as nossas perguntas são simplesmente vontade de afirmar o próprio creio. Somos auto-referenciais! Invés, o encontro com Deus supõe a surpresa, o imprevisível, a vontade de escutar, o desapego das próprias certezas.

Graças à influência do modo de ser da rede, queremos imediatamente uma resposta, para tudo. Em relação à bíblia, tudo do nosso dia-a-dia é colocado em categoria de pergunta e resposta, com a citação do versículo bíblico em que se baseia tal resposta. A reflexão não faz muito sentido. Se está escrito na Bíblia, basta! É tudo! Não dá e não precisa refletir. O mistério não tem mais sentido, a reflexão não faz mas parte da nossa caminhada. A surpresa tem que ser evitada; mete medo! Ninguém quer ser colocado em crise, ninguém quer ficar com dúvidas. Ninguém tem mais tempo para ouvir, mas quer simplesmente falar, ser protagonista.

Todavia, biblicamente falando, a crise, a surpresa, a dúvida são elementos constituintes da experiência que o ser humano faz com Deus. Esses elementos sacodem o fiel, mas ao mesmo tempo o colocam em caminho, fazem encontrar Deus e consolidam a própria fé.