Através da sua pergunta fica evidente que você conhece bem o problema e quer refletir conosco, com os leitores do site. Você faz várias considerações que merecem nossa atenção. A primeira delas é a presumível contraposição entre exegeta e biblista.

 

Exegeta e biblista

O exegeta, no sentido próprio do texto, não necessariamente é um biblista, pois o sentido básico da palavra, baseando-se no vocábulo grego (exegesis), é "conduzir para fora" e pode ser aplicado a todo aquele que se debruça sobre um texto, bíblico ou não, tentando fazer uma explicação crítica dele. É verdade que em princípio esse termo foi usado para os que se dedicavam ao texto bíblico, mas hoje é possível fazer exegese de um texto de Shekespeare, por exemplo, ou de Camões. Talvez cada vez mais será necessário falar de "exegeta bíblico", para delimitar o campo de pesquisa.

O biblista, é um sinônimo para "exegeta bíblico": é alguém que se debruça sobre a Bíblia e tenta "tirar fora" a mensagem, usando instrumentos científicos. Em ambos os casos se fala de uma figura "profissional", que seguiu um percurso de estudo e "conhece" os instrumentos de trabalho. De fato o biblista (exegeta bíblico) usa vários recursos científicos, imprescindíveis para a sua 'profissão': crítica textual, história, antropologia, gêneros literários, arqueologia...

Nem todos os leitores da Bíblia são biblistas. Fazendo uma comparação, posso gostar muito de música, escutá-la, admirá-la, usá-la na minha vida cotidiana, mas não sou obrigado a saber tocar piano, por exemplo. Sabe tocar piano só quem se exercitou, dedicou-se muitos anos ao estudo. Mas ao mesmo tempo, o pianista não é o ‘dono’ da música, como também o biblista não é o ‘dono’ da Bíblia.

 

Biblistas e crentes em Deus

Seguindo a nossa comparação usada acima, pergunto se é comum ver um pianista que não gosta de música... A resposta evidentemente é negativa. Da mesma forma um biblista deveria ser um crente em Deus. Não é possível admitir uma interpretação adequada da Bíblia por parte de alguém que não crê em Deus, que não acredita que a Bíblia seja um livro sagrado, que revela a mensagem divina. Na verdade existem estudiosos da Bíblia cuja fé nem sempre é evidente, pois não é possível excluir ninguém do estudo da Palavra de Deus. Todavia essas pessoas não conseguem acolher toda a riqueza das Escrituras. Elas podem muito bem entender quando foram escritas, quem as escreveu, o contexto, etc, mas ficará faltando sempre alguma coisa.

Usamos novamente uma comparação conhecida no mundo exegético bíblico, para esclarecer esse ponto. Conta-se que um casal guardava com carinho um bilhete trocado entre eles quando eram estudantes na mesma classe há muito tempo atrás. Era simplesmente uma ‘cola’ de matemática, uma conta de matemática. Para o casal aquele bilhete tinha um sentido particular, era algo especial, pois graças a ele nasceu o amor que levou ao casamento e à vida juntos. Ora, se esse bilhete fosse parar nas mãos de um ‘leigo’, mas esperto em matemática, de alguém que não conhecesse a história desse casal, seria capaz de dizer de que conta se trata, mais ou menos de que período escolástico se refere, mas não acenaria minimamente ao fato da importância relativa à vida das duas pessoas que tiveram aquele bilhete nas mãos. O mesmo acontece com um eventual biblista que não tem fé: é capaz de dizer tudo sobre o texto, do ponto de vista científico, mas fica faltando uma coisa essencial, que só pode conceber e entender quem tem fé.

 

Estudos científicos sobre a Bíblia

As bibliotecas e livrarias estão cheias de estudos científicos sobre a Bíblia. Esses estudos são inumeráveis; são tantos! E eles são fundamentais para as pessoas que querem ler a Bíblia com profundidade e autoridade. Prescindir deles a priori é ignorar a importância e dinâmica dos textos bíblicos. Esses livros vão desde a análise das traduções bíblicas até as discussões sobre a mensagem.