O período intertestamentário é o espaço de tempo que separa os últimos escritos bíblicos, sobretudo do cânon da Bíblia Hebraica, do nascimento de Cristo e da composição dos primeiros escritos do Novo Testamento. Falando em termos cronológicos, esse período compreenderia cerca de 400 anos, desde a morte do profeta Malaquias, no V século antes de Cristo, até  as primeiras cartas escritas por Paulo, por volta do ano 50 depois de Cristo. Se consideramos, invés, o cânon católico, que inclui no Antigo Testamento também os livros escritos em Grego, esse período de tempo diminui muito, pois o último livro do Antigo Testamento, o Livro da Sabedoria, teria sido escrito a menos de 100 anos antes de Cristo.

História intertestamentária

Conscientes dessa diferença, podemos explicar um pouco o que encontramos nesse período de tempo. De fato a história de Israel continuou o seu percurso, até mesmo de forma mais movimentada do que antes. Desse período poderíamos citar as peripécias da Palestina debaixo do domínio persiano, submissa a Alexandre Magno e ainda ao domínio egípcio. Precisa sublinhar o domínio dos Selêucidas, que é o contexto em que nasce a revolução provocada pelos macabeus. Seguindo, cronologicamente, o percurso histórico, temos o reino dos asmoneus e a tomada da Palestina por parte dos romanos, que provocou o fim da comunidade de Qumran, já no período do Novo Testamento e, finalmente, a insurreição sob o protagonismo de Bar Kokba.

Como podemos ver, foi um período histórico muito rico de eventos. E tudo isso não deixou de influenciar a literatura em Israel. De fato, os escritores judeus não cessaram de escrever de um momento para o outro. A questão é que o que foi escrito depois da morte de Malaquias não foi mais considerado, pelos judeus, como literatura inspirada.

Literatura intertestamentária

Há vários escritos que testemunham a dinâmica histórica vivida pelos judeus no período entre os dois Testamentos. Uma categoria muito importante entre esses escritos é a literatura apocalíptica. O povo judeu, experimentanto a opressão do domínio estrangeiro, via longe a realização das promessas divinas, visto que experimentava uma situação oposta àquelas prometidas. Por isso cresceu a esperança numa transformação histórica que aconteceria no futuro e que mudaria completamente o percurso da história, revelando o poder de Deus que traz a salvação. Dentro desse estilo é colocado já o livro de Daniel e também o Apocalipse de João, presentes na Bíblia. Mas fora da Bíblia há tantos outros livros, chamados apócrifos, que protagonizam essa corrente: Henoc, Apocalipse de Esdras, Apocalipse de Baruc, Livro dos Jubileus, Testamento dos 12 Patricarcas, Assunção de Moisés, etc. Todos esses livros são considerados apócrifos (ou pseudo-epígrafos) e podem ser lidos em publicações especializadas, infelizmente difícil de encontrar nas livrarias e editoras do Brasil.

Outra categoria de escritos do período intertestamentário são os escritos considerados como apócrifos pelos protestantes (os católicos os chamam de "deutero-canônicos), mas presentes nas versões católicas e ortodoxas da Bíblia. É o caso dos livros dos Macabeus, que trazem muitas informações históricas do II século antes de Cristo, da luta feita pelos judeus contra a helenização dos costumes e da religião em Israel, imposta pelo dominador grego.

Há também a literatura rabínica, que ocupa um lugar importante nesse período. Os mestres judeus liam e interpretavam a Bíblia. Dessa leitura nasceu uma tradição oral, que em seguida foi colocada por escrito. Ela revela o contexto em que esses mestres/rabinos viviam. Fazem parte desse grupo de escrito os targuns (traduções da bíblia em aramaico, com comentários), os comentários e interpretações dos rabinos, que foram reunidas na Mishná e no Talmud.

Temos também os célebres escritos de Qumran, escritos descobertos no século passado, em grutas do deserto próximo ao Mar Morto. Esses escritos faziam parte da biblioteca da comunidade dos Essênios, que foi destruída pelos romanos alguns anos depois de Cristo. Há muitos textos bíblicos, já conhecidos por nós, mas também tantos outros livros que não conhecíamos e que revelam o ambiente religioso daquela comunidade e que são fontes importantes para entender o contexto intertestamentário.

Por fim, mencionamos autores importantes como Flávio Josefo, historiador judeu amigo de Roma e Fílon de Alexandria, que  procurou, com a reflexão filosófica, dar um fundamento racional ao judaísmo.

Leitura aconselhada

Você pode ler o excelente e clássico livrinho de André Paul chamado "O que é o Intertestamento" publicado também em português. Encontrei essa versão em PDF, online (web.unipar.br).