Assim diz o texto do profeta no versículo que você interroga:

Ele disse: Iahweh rugirá de Sião, de Jerusalém levantará a sua voz, e murcharão as pastagens dos pastores e secará o cimo do Carmelo.

Estamos logo no início do livro. Portanto, trata-se quase de uma nota programática, que revela qual será a mensagem geral do profeta.

Primeiro de tudo é preciso situar essa profecia. No versículo 1 Amós diz que está profetizando no tempo de Ozias, que era rei em Jerusalém (Judá - Reino do Sul), e de Jeroboão, rei na Samaria (Israel - Reino do Norte). Estamos há cerca de 800 anos antes de Cristo. Era uma época em que a nação do Senhor estava dividida. A divisão aconteceu depois da morte de Salomão, quando se formou o reino de Israel, com sede na Samaria, e o Reino de Judá, com sede em Jerusalém. O sonho dos profetas é que o povo volte a ser unido, num único reino, como um reino davídico. Isso, na verdade, nunca mais acontecerá. Torna-se, então, uma promessa messiânica, algo que será realizado com a vinda do Messias.

Amós é natural de Técua, que fica no Reino do Norte. A primeira frase do versículo em questão (Iahweh rugirá de Sião, de Jerusalém levantará a sua voz) transmite uma mensagem de desejo de união entre o povo: todos devem escutar a voz de Deus, que fala como um leão, ou seja, com força, com potência. Essa voz vem de Jerusalém (reino do Sul), que também para o profeta do Norte é o centro unificador do povo, lá onde está o Templo de Iahweh. O senhor une e não divide! Essa é uma primeira mensagem

A mesma frase encontramos também em Joel 4,16, quando se fala do dia de Iahweh. Nesse sentido é também de ajuda Jeremias 25,30-38.: 

Iahweh ruge do alto... Ele ruge contra a sua pastagem (...) Porque Iahweh entra em processo com as nações.

Desse ponto de vista, Amós sublinha que aquilo que Deus diz não é uma palavra morta, mas é um juízo, é uma mensagem que nos desafia, que nos coloca contra a parede, que nos interpela e chama à ação. Não podemos ficar parados, inernes diante daquilo que profetizam os profetas. Não precisamo pensar somente no dia do juízo final, como algo trascendente, mas aplicar isso no nosso quotidiano.

Por fim, no versículo, aparece também a menção às pastagens e ao cimo do Carmelo. Esses dois fatores lembram o bem estar, a riqueza, a vida tranquila. Naquele tempo a sociedade era essencialmente de pastores. Ter pastagens e lugares com muita coisa verde era aquilo que havia de melhor. O Carmelo, uma colina que fica na região entre a Galileia, Samaria e o Mediterrâneo, é, até hoje, um local com floresta, onde há muito verde, que contraste com o deserto circunstante. A mão do Senhor não poupará o povo, não deixará ele tranqüilo no seu bem-estar. É preciso seguir a Iahweh, a sua justiça. Só então se encontrará paz. A esse propósito é interessante ler também Isaías 33,9-16.