Os evangelistas Marcos e Lucas distinguem Levi, o cobrador de impostos que Jesus chama para ser seu discípulo (Mc 2,14; Lc 5,27), e Mateus, que aparece na lista dos doze, que não tem descrição depois do seu nome, e acerca de quem nada mais se sabe (Mc 3,18; Lc 6,15). �? a narração mateana que cria a referência cruzada, primeiro mundando o nome de Levi para Mateus na história em que Jesus chama um cobrador de impostos (Mt 9,9) e depois Mateus acrescenta o nome na lista do doze com a descrição de "o cobrador de impostos" (Mt 10,3) (cf. J. P. Meier).

Esta mudança redacional operada por Mateus, feita no final do primeiro século, pode ser justificada diversamente: uma possível associação com o autor do Evangelho; intenção do evangelista sublinhar a sua principal motivação ao redigir o seu Evangelho: apresentar Jesus como o Messias Judeu que veio para reunir todo o Israel (pobres, ricos, pecadores, cobradores de impostos, mulheres, ...); Mateus, que era um anónimo líder judeu no seio da comunidade cristã, tinha uma �??superior�?� educação, expressa nas suas próprias qualidades literárias, e pode ter convivido mais de perto com a classe dos cobradores dos impostos; na intensa acção de Jesus e dos doze em Israel pessoas de todos os sectores os escutaram, é bem possível que entre esses se encontrassem cobradores de impostos que se tivessem convertido e transformado as suas vidas; pode ter servido e encaixado o próprio contexto da sua acção narrativa, senão vejamos: 9*Partindo dali, Jesus viu um homem chamado Mateus, sentado no posto de cobrança, e disse-lhe: «Segue-me!» E ele levantou-se e seguiu-o. 10Encontrando-se Jesus à mesa em sua casa, numerosos cobradores de impostos e outros pecadores vieram e sentaram-se com Ele e seus discípulos.11*Os fariseus, vendo isto, diziam aos discípulos: «Porque é que o vosso Mestre come com os cobradores de impostos e os pecadores?» 12Jesus ouviu-os e respondeu-lhes: «Não são os que têm saúde que precisam de médico, mas sim os doentes. 13*Ide aprender o que significa: Prefiro a misericórdia ao sacrifício. Porque Eu não vim chamar os justos, mas os pecadores.» (Mt 9,9-13).

Importa recordar que a Judeia era uma pequena provincia imperial controlada por Roma através daquilo a que poderíamos chamar uma aristocracia imperial. Este controle da parte das famílias aristocratas era baseado na tradição e na hereditariedade e mantido pelo exercício do poder como meio de o manter sem a preocupação da modernização, comercialização ou proveito das classes inferiores. Estas classes superiores aristocráticas eram familiarmente próximas, e não estavam sustentadas constitucionalmente, mas segundo relações operadas pela tradição entre as principais famílias aristocráticas. A venda de cargos e decisões judiciais era um lugar comum. Uma das principais tarefas destas classes era colectar taxas para seu proveito e sustento.

As taxas, tributos não eram referendados, mas impostos superiormente em benefício apenas das classes superiores e não em benefício de todos. Inclusivé o lugar do sumo sacerdote no templo de Jerusalem era uma decisão política sujeita a aprovação da parte dos herodianos e romanos. Jesus questionou os seus contemporaneos acerca dessas taxas romanas e aquelas do templo (Mc 12,13-17). Mas, também disse: �??Dai, pois, a César o que é de César e a Deus o que é de Deus.�?� (Mt 22,21); e ainda: "�? do coração procedem as más intenções, os assassínios, os adultérios, as prostituições, os roubos, os falsos testemunhos e as blasfémias. (Mt 15,19)