A história de Saul e da 'feiticeira' de Endor é contada em 1Samuel 28. Saul, estando para enfrentar o exército dos filisteus, teve medo e quis saber qual sorte YHWH tinha preparado para o seu exército. Consulta então os profetas, estuda os seus sonhos, lança a sorte, mas nada lhe traz uma resposta. Então decide ir até uma necromante. Esta faz os seus rituais e então aparece Samuel, que diz ao rei Saul que Deus dará a vitória aos filisteus e ele e seus filhos morrerrão no dia seguinte.
No capítulo 31 do mesmo livro, a Bíblia conta como os filisteus vencem a batalha e como Saul se suicida sobre o monte de Gelboé.

Também na época antiga existiam as pessoas que diziam que consultavam os mortos. Isso é testemunhado na Bíblia (2Reis 21,6; Isaías 8,19). A Lei, contudo, sempre proibiu ao povo hebreu seguir tais crenças. De fato Levíticos 19,31 diz: não vos voltareis para os necromanes nem consultareis os adivinhos, pois eles vos contaminariam.. Também em Deuteronômio 19,9-11: Quando entrares na terra que YHWH teu Deus te dará, não aprendas a imitar as abominações daquelas nações. que em teu meio não se encontre alguém que queime seu filhho ou sua filha, nem que faça presságio, oráculo, adivinhação ou magia, ou que pratique encantamentos, que interrogue espíritos ou adivinhos, ou ainda que invoque os mortos.

A história contada em 1Sam 28 precisa ser lida não na perspectiva da crença ou não na necromancia. A leitura desta passagem é muito mais complexa e precisa ser bem contextualizada. O texto tem a ver com a passagem de poder entre os primeiros reis de Israel, de Saul para Davi. Se lemos o primeiro livro de samuel, sobretudo a partir do capítulo 8, percebemos como Deus escolhe Saul como rei do seu povo. Em dado momento, sem razões precisas, Deus não gosta mais de Saul e decide escolher um novo rei: Samuel unge Davi como rei de Israel (1Samuel 16). O autor sagrado sabe que não é claro, para o leitor, por que Saul é rejeitado e então ele dá, em continuação, diversas razões. A primeira aparece em 1 Samuel 13, quando Saul oferece sacrifícios a Deus. Samuel diz que tal culto era sua função e não do rei. Mais tarde, no capítulo 15, Saul combate contra os amalecitas. Vence a batalha, mas não destrói tudo o que conquistou, como era lei, poupando da destruição a parte melhor. Isso faz com que apareça Samuel e diga que ele, Saul, foi rejeitado por YHWH. Saul reconhece o seu erro e pede perdão. O leitor espera por misericórdia, mas a vida de Saul fica tribulada e começa uma guerra de poder com Davi, que é ungido logo em seguida.

Como o leitor ainda não fica contente com a história bíblica, o autor acrescenta uma outra etapa 'errada' de Saul, para tirar dele toda a simpatia do leitor. Saul não tem mais razão para governar Israel. Aparece (não se trata de um fato histórico, mas é uma construção literária) Samuel, que ripete o que já dissera no capítulo 15: Deus escolheu Davi e Saul pode (deve) desaparecer.