Pergunta muito interessante. Revela uma consciência necessária para cada leitor da Palavra de Deus.

Os textos originais foram escritos há muito tempo e num período quando os suportes informáticos, que ajudam tanto à trasmissão de qualquer texto, eram impensáveis. Além disso foram escritos em línguas estranhas à maioria dos ocidentais: hebraico, aramaico e grego. O autor, depois de escrever um evangelho, por exemplo, destinava o seu manuscrito a uma comunidade. Era algo precioso, cópia única e a sua duplicação exigia também um certo esforço econômico. Com o tempo na comunidade que herdou o escrito apareceu alguém que fez uma cópia e assim nasceram outras cópias. Nós hoje, possuímos apenas essas cópias e, na maioria dos casos, são pedaços. Os textos, naquele tempo, não tinham os recursos ortográficos de hoje. O hebraico, por exemplo, não tinha vogais. E por isso uma palavra, na intenção do autor, podia significar uma coisa e o leitor, por sua vez, ler outra. Só algum tempo depois de Cristo alguns escribas definiram os textos em hebraico, colocando vogais e perpetuando a transmissão do significado. Os manuscritos não tinham vírgulas, pontos e nem maíúsculas ou minúsculas; era uma escritura uniforme, com todas as palavras seguidas, sem espaços entre elas.

 

As cópias feitas pelos intelectuais da época corriam o risco de erros. Também para nós, que digitamos um texto, é evidente as possibilidades de erro: posso trocar uma letra, saltar uma palavra ou até mesmo uma linha. encontramos inúmeros erros destes tipos entre os manuscritos antigos.

 

Outro parágrafo merecem as traduções em nossas línguas. Na igreja, durante séculos, prevaleceu a bíblia em latim, traduzida por Jerônimo. Os judeus, em relação ao Antigo Testamento, transmitiram, em hebraico, com fidelidade o texto. Isso fez com que durante séculos o texto, do antigo e novo testamento, fosse transmitido de forma uniforme. A partir do Concílio de Trento, depois do advento do livro imprimido, começaram a multiplicar-se as traduções da Bíblia nas diferentes línguas. No início, até algumas décadas atrás, a maioria dessas traduções, eram realizadas a partir de outras traduções, sobretudo a partir do texto latino de Jerônimo. Uma tradução já pode correr o perigo de alguns erros; mas tradução de tradução é muito mais exposta a esse risco.

 

Hoje em dia, graças a tantos fatores, somos previlegiados. As traduções moderans são muito fiéis e tem uma autoridade cada vez maior. Os tradutores são estudiosos muito capacitados e, exceto raras excessões, os resultados são louváveis. Permanece o problema de saber qual é o texto original, ou seja, que texto hebraico, aramaico e grego tomo para realizar uma eventual tradução, visto que o manuscrito original não existe mais. Para resolver essa questão, temos à disposição uma ciência chamada crítica textual. Ela se encarrega de colocar à disposição nossa, através de instrumentos científicos, o texto original do escritor sagrado. Escrevi, há alguns anos um artigo sobre essa disciplina e não entro em detalhes aqui. Em todos os casos, quem quer fazer uma tradução da Bíblia, a partir dos textos originais, não precisa correr atrás de manuscritos, em museus ou bibliotecas antigas. Invés, tem a disposição, com facilidade, os instrumentos necessários.

 

Concluindo, diria que as traduções hodiernas são muito confiáveis. Há sempre o perigo de cair em tentações derivadas de alguma convicção confessional. Existem também algumas edições que, para economizar, editam traduções antigas e, nesses casos, os erros são muito mais frequentes. É aconselhável, antes de comprar, ler as primeiras páginas da edição que pretendemos adquirir. Nelas devem estar indicados os tradutores e/ou o processo que resultou no texto que é colocado à disposição. Se você não encontra nenhuma indicação, não é um bom sinal.