Olá Daniel,

Sua pergunta nos oferece uma boa reflexão, principalmente nos dias de hoje em que as desigualdades sociais são tão gritantes, e também perecebemos o grande crescimento do individualismo. Podemos ver uma pequena parcela de pessoas que têm muitos recursos e só pensam em adquirir mais e não se sensibilizam com as pessoas a quem faltam os mínimos recursos para sobreviver. Não me refiro apenas a indivíduos que assim pensam e vivem, mas também a sistemas de governos que apenas procuram a supremacia e poderio a partir da posse de armas e do desenvolvimento de tecnologias, e não se preocupam em dividir suas riquezas para ajudar a quem muito pouco ou nada têm. Os recursos que dispomos podem ser de bens materiais, mas também de conhecimentos, do saber que é também uma grande riqueza.

 

Vejamos apenas alguns textos bíblicos:

 

Podemos começar a partir da criação do mundo em que tudo o que Deus criou é bom e dado gratuitamente a todos, tanto aos seres humanos, como aos animais e vegetais. Como o louvor do Sl 104,24 nos afirma que a terra está repleta das riquezas de Deus. Esta riqueza de Deus é repartida com todos gratuitamente.

 

Algumas leis do povo hebreu já atentavam para os perigos que o acúmulo de bens poderia trazer à sociedade da época. Por isso as leis do Ano Sabático e do Ano Jubilar, veja em Dt 15,1-5 e Lv 25,8-13.

 

Em Lv 25,35-38 com paralelo no Dt 15,7-11 fica clara a ajuda que deve ser oferecida, por quem pode, a quem está necessitado: “Se teu irmão empobrecer, e as suas forças decaírem, então sustentá-lo-ás” (Lv 25,35); “Quando entre ti houver algum pobre de teus irmãos, em alguma de tuas cidades, na terra que o Senhor, teu Deus, te dá não endurecerás o teu coração, nem fecharás as tuas mãos a teu irmão pobre; antes, lhe abrirás de todo a tua mão e lhe emprestarás o que lhe falta, quanto baste para a sua necessidade” ( Dt 15,7-8). Em Pr 22, 9 está a benção de Deus dada a quem dá seu pão ao pobre.

 

A respeito do verdadeiro jejum o profeta Isaías lembra ao povo que é necessário repartir o pão com o faminto, recolher em casa os pobres desabrigados e se alguém estiver sem roupa que seja coberto e que não é permitido esconder-se do semelhante necessitado, confira em Is 58, 7.

 

Jesus nos ensinou a partilha em todas as suas ações, pois ele partilhou seus poderes de cura e libertação a quem dele precisou, e condenou a avareza veja Lc 12,15. A salvação chega para Zaqueu quando ele tem consciência que sua riqueza oprimia muitas pessoas e decide dar a metade de seus bens aos pobres, veja Lc 19,8.

 

Aqui cabe também uma consideração a respeito da palavra pobre que aparece na bíblia. No hebraico ela aparece em duas formas: “ani” e  “ebion”. Quando se refere à ani quer dizer a pessoa que é oprimida, porque é humilhada, pisada, injustiçada. Situação em que a ela não é dada opção de se levantar para se libertar. Quando em Dt 15,4 aparece referência que entre o povo de Israel não pode haver pobre, é a este tipo, ou seja, de pessoas oprimidas, injustiçadas. Deus libertou o povo da opressão do faraó de Egito e por isso todo povo deve viver com liberdade plena.

 

Já quando se refere à ebion a tradução mais adequada é uma pessoa necessitada, o pobre que por uma eventualidade como: doença, incêndio, catástrofe, acidente, por ser órfão ou quem perdeu algum bem, mas que com uma ajuda tem meios para se reerguer com seu trabalho. É a esse tipo de pobres que Jesus se refere em Mt 26,11, é esse tipo de pessoas que estão passando por uma necessidade eventual e que precisam de uma ajuda para se recuperar.

 

Temos uma grande missão como pessoas cristãs em nos unir e lutar, com todos os recursos que dispomos, para que a opressão, a injustiça e a corrupção sejam combatidas para que não haja mais como os ani, os explorados e oprimidos; e, também, de exercer a solidariedade e a caridade para os que são como os ebion, os necessitados por uma eventualidade, para que eles tenham condições de se recuperar.  Que Deus nos fortaleça e nos ajude.